quinta-feira, 8 de setembro de 2011

O odor e a nossa própria contradição

O homem é resultado daquilo que ele pensa sobre o mundo, do que o mundo pensa a respeito dele, e do que ele pensa sobre si mesmo... Schopenhauer disse algo assim, não me lembro se foi exatamente com essas palavras e estou com preguiça de ver no livro a página que grifei...

Nascimento da criança geopolítica (Salvador Dalí)
Não há como negar que o homem vive dentro de uma cela. Muitos filósofos explanaram sobre isso (Os que mais me agradam são: Nietzsche e Zygmunt Bauman)... é óbvio que se olharmos ao redor e enxergar como muitas pessoas estão esperançosas com seus planos por comprar um produto novo do mercado, uma casa própria, um carro do ano... alegres por terem maiores facilidades em adquirir bens, tenderemos a pensar que nosso país está crescendo, que o mundo nos acolhe e a sociedade está "feliz"... ao olhar o sorriso de um colega que ora na igreja ou no centro espiritual por luzes em sua vida mal discernida conduzida por políticas econômicas abstratas pelo seu senso nebuloso, que "dá certo" sem mensurar referente ao grilhão que o acorrentou desde o momento em que nasceu... é óbvio que o primeiro impacto é achar que essa sociedade está conseguindo nos oferecer aquilo que a modernidade tanto sonhou... a tal da "liberdade"... tão sonhada por uns... tão deturpada por outros...

Mas quando digo sobre estar preso numa cela, não é por achar que esse nosso conjunto de regras bem constituídas (bem escritas pelo legislativo) estejam incorretas em sua essência (intenção por trás da ação)... é um vagar por caminhos que não enxerga semblante positivo nessa dependência... esse nosso "ser" precisando de outrem de uma maneira esmagadora... teorias de mercado... cursos de finanças... medos e valores sintéticos...

Vidas desperdiçadas... vazias... remediadas...num cortejo fúnebre rumo ao nada... ali batido, entre o certo e o errado, a tradição do local e bloqueio global... na alienação "do que é dito, do que é visto... acesso é o poder e o poder é a informação"...


O odor de um livro que precisa ser fechado para que as demandas de um dia de trabalho possam ser atendidas faz desacreditar que a cidadania sirva de alguma coisa no final das contas... quem descobriu o Brasil? quem revolucionou o quadro político e social no ocidente? quem foi Marat? quem foi Adam Smith?... eu  questiono sussurrando pra mim mesmo olhando para o teclado... quem foi você? quem é você? quem somos nós?

A hora que mais me sinto bem é quando consigo esquecer de quem eu sou... não mais o mundo e eu e não mais eu e o mundo... sem o dever... sem o estar... sem o parecer... quando o que reflito não tem mais haver com o que o espaço desenhado espera de mim...

São questões que os donos de nossas empresas nunca ouviram e nem ouvirão falar, perdidos em números e gostos sofisticados (uma cultura elitizada, sem paladar, soberbada e envaidecida) ditando regras éticas, estéticas e estáticas... da mesma forma que no passado o senhor de engenho, em sua fazenda perdida no meio do nada, era tão ignorante quanto os escravos dos quais era dono... só a cor os diferenciavam...

Ainda somos essa mesma sociedade...

Enquanto nos porões das fábricas nosso suor move as máquinas, a fumaça cinza apaga o sol... os Zyklom b estão por toda parte.... na propaganda e nos livretos de alto ajuda que nada dizem e tudo dão... dão à ignorância o sabor superficial que engana o azedo da morte, e o corante ao escuro abismo do latejo neural.

Davi e Golias (Michelangelo)
A miséria nossa que a sociedade do espetáculo não nos deixa ver... trancafiados no que precisamos parecer, para não perder o pequeno nada que conseguimos... correndo entre gigantes mortos em castelos do céu...
num tenro véu... entre o dever e o estar, o moral e o imoral... a cantiga e o grito... 
sempre haverão dois lados...
a concordância, o comumente, o cômodo.... e a insônia insana irracional que não aceita entrar nos trilhos... sem conservadorismos, sem militância didática... a escola nos transforma, o mercado nos utiliza... nossos sonhos se vendem... e Kafka adentra meus lençóis...

...Amanhã comprarei algo pela internet...


Fernando da Silva Ribeiro (Sinnentleerten)

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