domingo, 22 de setembro de 2013

Peter Pan no Asfalto

E assim eu cresci... 

Um Peter Pan talvez? Acho que não, não sou brincalhão, e não vivo de aventuras mágicas... Alíás, minhas aventuras parecem bem trágicas por sinal...

Eu cresci assim, lendo, ouvindo música, fazendo arte, trabalhando...  
Administrando meus vícios (muitas vezes sem sucesso) fui estabelecendo uma relação com a cidade que me criou... São Paulo e eu temos uma relação de amor e ódio. Ela me ofereceu os melhores lugares para estar, momentos com pessoas inesquecíveis, mas também foi muito hostil em alguns outros momentos também... 
Seus muros e suas cercas sempre bem delineadas estabeleceram comigo a ponte de diálogo onde por muitas vezes pude questionar as relações de poderes, e perceber o quanto não somos livres e quão é difícil ter uma ideia de liberdade e quão ambígua ela pode parecer.


Por muito tempo cheguei a pensar que liberdade era simplesmente sair, andar, correr, beber, falar, gritar... Achava que o fato de fazer as coisas do meu jeito era ser livre... 

Com o tempo vi que era mais complexo do que isso, que dependendo das circunstâncias somos levados consequentemente a avaliar as coisas de uma maneira diferente e que as prerrogativas se diluem a medida que as responsabilidades aumentam.

Mas uma coisa que não consigo tirar da minha mente e que acredito ser alicerce de minha sorrateira filosofia é a carga negativa que carrego contra a ideia de que muitos autores, professores e pensadores em geral se aproveitam: de que o amadurecimento intelectual e a liberdade estejam ligados a "finesse" relacionada a comportamento. 

É muito comum você conhecer um velho de cinquenta anos hoje bebendo vinho, fumando charuto e passeando de jaguar e que se você for verificar o passado desse cara verá um "adolescente", beirando os trinta que comia ovo frito, fazia mochilão, andava de bike e lia Marx como bíblia contra as doutrinas e etiquetas que julgava vir da burguesia que odiava.

Vejo muitos cínicos do alto de seus apartamentos da zona oeste de São Paulo citando pensadores e refletindo pensamentos que pra mim as vezes serve apenas como delatação deles mesmos , onde muitas pessoas que com o passar do tempo começam a confundir a questão da liberdade e subsistência com aquisição de costumes finos, patrimônios e segurança de seus bens de maneira exacerbada, boçal.

O amadurecimento intelectual parece ser um portal onde as pessoas ficam esperando que você passe, e dessa forma analisar seu grau de sucesso através das coisas que conquistou... 

Analisam seu emprego, seu salário, seus modos, sua etiqueta, querem saber os lugares que viajou e frequentou, as modas que seguiu e cara! na boa... as vezes parece que a procura da liberdade "madura" na realidade se torna uma escravidão onde você substitui o ser que você era para se tornar algo digno de "nota", se tornar alguém reconhecido enfim por conquistas materiais... affff

Bom, o fato é que cresci lendo Schopenhauer, Tolstoi, Sartre, Strauss, entre outros sem utilizá-os de maneira prática na minha relação com as tendências de consumo daquilo que as pessoas esperavam de mim. Ou seja, professores, advogados, policiais, chefes e gerentes apegados a ideia de que alguém para ser inteligente necessariamente precisaria trazer consigo uma vestimenta social, um palavreado sem dialetos e gestos nobres sempre se deparam nos conflitos comigo boquiabertos... Neguinho querendo falar de lei, outro querendo estabelecer conceito, outro definindo padrões... e eu desconstruído seus palanques... Fazendo os seus ouvintes pensarem, proliferando a desobediência com citações Nietzschianas sempre tive meu lugar guardado.

E esse meu lugar nunca foi e nunca vai ser puxando saco de playboy na balada para parecer bem entrosado, nem criando metodologias comportamentais para arrancar das pessoas elogios que não passam de mentiras. Meu lugar sempre foi potencializando apenas o que realmente me transforma num hipócrita egoísta mais sincero comigo mesmo. 

Se todos sempre estão mentindo para agradar os outros, eu procuro mentir para agradar as minhas próprias energias vitais... sou um mentiroso assumido mas com ideia pra trocar, entende? Talvez isso é o que faz com que esses retardados de terno importado, diploma renomado, Gianni Versace, fiquem meio assustados ao perceberem que a ideia que sai e encanta suas musas não tem logo, nem marca e não é moldado por uma lógica moral de etiqueta. Não estou preocupado em dizer se a democracia ou o socialismo são ou não são os melhores regimes, ou se dinheiro trás ou não trás felicidade, mas sim em viver essa vida que me resta mais sinceramente possível.

De skate e rock nos ouvidos a coluna da Folha não tem o mesmo sentido que para um gerente e suas políticas de ganha pão. De camisa, calça jeans e tênis o papo rende mais do que essa preocupação incessante em mostrar poder.

Vai lá seu idiota, comprar seu perfume na lojinha gringa de Alphaville, seu sapato foda no Iguatemi. Enquanto ela sonha com dia em que passeou comendo pastel na galeria do Rock no centro de São Paulo. 



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...