quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Interpretação do último post

No último dia 25 postei uma narração em primeira pessoa de um cara ex viciado em cocaína que encontrava-se trabalhando numa empresa a quatro meses e que decidiu colocar um fim a vida de sua supervisora no trabalho.

A princípio parece ser um texto simples.  Porém, foram muitos questionamentos referente a atrocidade e gratuidade do ato do rapaz, e o vácuo de algumas pessoas que de repente não pescaram a mensagem por trás da pequena história trash me deixa incumbido de explanar um pouco sobre o que eu tentei expressar...

O texto é uma analogia não muito palatável e a cocaína vem para representar a fé...
Cremos por vício.
A crença (em suas diferentes vertentes) é nosso vício cultural, perpassado por nosso pai e nossa mãe, nosso avô e nossa avó, nossos professores, amigos, etc. todos que mostraram uma imagem semântica de Deus e Símbolos que serviriam como responsáveis por aquilo que nossa mente ainda infantil seria incapaz de pensar e formar opinião...


Assim, ele larga a cocaína... Na verdade ele larga é a fé... Em um determinado momento de sua vida ele percebe que há algo errado em viver numa dimensão psicológica inerte ao espaço em que habita, porém oscila o tempo todo no contraponto de que não estar viciado (no estágio religioso –“Kierkegaard”) talvez seja também uma forma de entorpecimento.
A reação primária nesse ato (cético) de descrença onde ele larga sem motivos específicos é a revolta... Uma rebelião sensorial por não obter mais um sentido unificador das relações que o joga num mar de questionamentos que o entorpecimento da fé não o deixava rastrear antes e que agora os símbolos da dimensão ética o absorvem pelo raciocínio ainda que frustrado...
Dentro dessa nova contextualização que é praticamente obrigado e empurrado a ter de discernir já não existe correntes para sua imaginação adolescente antiga, ela encontra-se machucada pela orfandade, pois o que aparece a princípio em sua conjectura é que se Deus existisse então ele seria mal por abandoná-lo a deriva frente a realidade escaldante de ter de dar conta das demandas de seus dias sem “mecanismos de conforto”, e mesmo que ele tenha deixado (como deixou) de acreditar repentinamente nesse tal Deus, em seu inconsciente a falta desse totem, dessa figura, viria repercutir por muito tempo até que um pensamento mais profundo e racional sanasse a ferida cicatrizando sistemicamente o vácuo exposto em forma de falta (ausência de algo vicioso que o consumia antes de tal forma que só uma catarse conseguiria relativizar suas perspectivas o auxiliando, mesmo que inconsciente, a adentrar numa outra dimensão de questionamentos dos símbolos sociais e intrínsecos a si mesmo).
A falta aqui será interpretada como o mal na mente do rapaz que ainda não conseguiu visualizar-se como real condutor e lapidador de seu pensar... Logo que, quando a cocaína encontrava-se em seu organismo lhe fazia um bem tremendo com o êxtase causado; um êxtase que o impedia de enxergar a finitude de sua própria existência. E depois, quando por não ter mais um anestésico ele finalmente se vira pra si mesmo e enxerga que sua vida na realidade (na realidade vista pelos olhos do rapaz) está sendo desperdiçada por  regras de conduta que em sua essência serviria apenas para lhe castrar. Daí então  vem a refletir sobre o que o impede de ser aquilo que não é, ou aquilo que deixou de se tornar. Há um bloqueio neurótico em sua interpretação referente ao seu eu ser o que é indiferentemente do que ele entende por passado, presente e futuro. Um bloqueio que de maneira animalesca presa a “caverna” começa a ver o mundo conforme vai elucidando-se em si mesmo... Tateia seus traumas e decepções construindo uma ponte até os outros numa profunda análise da vida como sendo gratuita e ilógica...
Tudo o que vive a partir da descrença, a partir do não mais entorpecimento com a cocaína é fruto dos “outros”, nada em sua revolta primária vem do que é seu... “o inferno são os outros” (Sartre), tudo o que começa a entender advêm aos seus olhos de uma sociedade hipócrita que o ensinou a ser o que é, tudo o que faz é ditado por uma constituição que o aprisiona e a única liberdade possível nesse momento é se livrar definitivamente daquilo que o incomoda... ou seja, se antes encontrava-se embevecido em mundo de crenças vazias (cocaína) que abafavam o ruído de sua existência dolorosa, agora acordado, consciente começa a nutrir na matéria física um alto teor de polarização dos sentidos... O que cheira, ouve e encosta deverá ser escolhida, então sente a necessidade de se livrar dessa realidade grotesca que é a revolta primária barata contra aquilo que a principio julgava ser o motivo que lhe impedia de vivenciar a existência em sua plenitude. E por fim matar a supervisora significa matar o mundo simbólico ao qual encontrava-se preso... Rasgando o semblante de um mundo cinza e ditador que instrumentado pela mentira o iludia na perspectiva de sua própria miséria ser algo coligado com o externo...

Ao fim o caos é seu... É o seu ser e o nada... Daí as pessoas dentro do departamento, o estilete em suas mãos, sem a cocaína e sem a senhora ditadora... É ele, seus demônios, as marcas e o mundo... Em seu pensamento deixa-se existir sem culpar a Deus ou o mundo por suas ausências, logo que a ausência seria um vazio universal inerente a qualquer postura conciliadora... mas até esse estágio foi necessário lutar muito em sua própria caverna.

Fernando da Silva Ribeiro (Sinnentleerten)

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