quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

"...Amamos o desejo, não o objeto desejado..."


Uma frase celebre de Nietzsche!

Uma das grandes mentiras do ocidente esteve no enfoque de achar que o “outro” sempre foi apenas uma extensão de amor ou ódio. Transformar as pessoas em anjos e demônios, interpretando tudo como “o certo e o errado”, em divisões alheias de seu início de forma medieval, nos afeta até hoje no meio em que vivemos.
Ou seja, nada do que pensamos no mundo é o mundo que nos faz pensar a priori. E isso é um resultado excêntrico a se concluir.

Mas se pensarmos um pouco mais a fundo olhando sem pretensões ao espelho, tencionaremos de que há primeiramente dentro de nós uma certa potência inicial, que é a vontade intrínseca em cada ser humano ditando aquilo que ele escolhe pensar e agir. Suas reflexões e atitudes são coisas “após” a sua real intenção
.
Intenção tem a ver com isso. Vontade inicial, o pulsar... A ipseidade.

Então quando julgamos tendo o outro numa cela de certo e errado, amor e ódio, há explicitamente a necessidade de julgar dentro de nós mesmos. Uma necessidade que nasce e precisa encontrar o que pegar, o que surrar, o que gostar.


Dessa necessidade inicial é que advêm todos os nossos demônios que por séculos lutamos contra. A igreja criando pecados e a constituição criando crimes, tudo para abortar em prol da ética tudo aquilo que é mais animal em nós, a espécie humana.

Assim, para Nietzsche a fraqueza do homem sempre esteve em ser homem propriamente dito, ou seja, estar dentro daquilo que a ética o constituiu em sociedade. O fraco é aquele que aponta o dedo sem a mínima percepção de que o que aponta existe também em si, a ignorância, o erro, o preconceito.
A dualidade é constante e a fraqueza se une em massa. 

O forte para Nietzsche seria então, aquele que se destaca da massa, que entende a ética e a religião como uma sistemática de proteção social que existe para assegurar aos semelhantes os seus símbolos morais e culturais.

Se olharmos dessa forma, cairemos na reflexão de que o que amamos a princípio não é o objeto em si, mas sim o desejo que sentimos ao criarmos uma forma, um sentido para o objeto que almejamos. (e objetos podem ser tudo, desde um brinquedo, até um prato, uma mulher). Temos a necessidade inicial de matar tudo o que temos hoje em prol de um mecanismo fisiológico cerebral que vislumbra o tempo inteiro algo novo.  A moralidade então seria uma administradora para que essa nossa condição fosse mais travada  possível.

Desejos, ânsias e vontades cegas saídas de nossas neuroses, culpas e traumas que adentram o mundo simbólico caçando objetos – a princípio subjetivos – que se transformam pela nossa própria mente no decorrer do processo em objetos com certo sentido "agregado". Desenhados pelas nossas danças frente ao que desejamos inicialmente sem um objetivo especifico, e que escolhemos dar continuidade à medida que integramos o objeto ao sentimento explosivo que nasceu de nossa própria necessidade.

O mundo externo nos dá apenas opções, mas é nosso pulsar que cria a necessidade. É como a fome que cria iguarias mais gostosas ao paladar, e outras não tão atraentes assim. A complexidade nasce de dentro e não de fora.
O objeto é secundário. O valor inicial está no que aniquilamos em nós mesmos (valores, ciências, percepções) que já não nos serve, em favor de incertezas que surgem constantemente nos sugando o tempo todo.

O forte em Nietzsche seria aquele que aceita essa tal condição complexa, pois seria aquele que experimenta, que recria o tempo todo discernimentos, que abre mão  e agarra seu presente... Agarra as ilusões e as tritura até que novos anseios, novas fomes e sedes apareçam, até que novos horizontes o absorvam (amor fati).

O mar, o campo, o silêncio e o barulho podem ser vistos por vários pontos de vistas diferentes, e tudo dependerá da intenção primária de quem procura, e de quem se depara com esses objetos mundanos.

Achar que os outros são primeiramente culpados por nossas condições é uma ingenuidade de certa forma infantil. Logo que os outros são "objetos" por essa perspectiva.

Primeiramente há a nossa condição humana que se desenhou desde o paleolítico; onde de repente nós, animais vorazes, começamos a criar um método racional de medo, nos unindo em bandos para proteger nossas proles, nossas colheitas, nossas caças... Condição tal que ao longo do tempo se transformou em mecanismos sociais mais amplos, como política, religião, trabalho.

Essa sistemática psicológica que nos condicionou em uma espécie que sente medo, nos jogou numa teia rotineira de aniquilação constante de nós mesmos (Freud) a favor de raciocínios de sobrevivência, nos transformando em homo sapiens ambíguos, divididos socialmente entre a covardia e a coragem, a fraqueza e a fortaleza, a potência e a impotência.

O fraco então seria aquele que se depara com seu medo fisiológico e não consegue ampliar a visão, estando travado em ferramentas culturais, e principalmente preconceitos tradicionais, até regionais.

A percepção de que fazemos parte de uma rede que não precisa necessariamente fazer parte daquilo tudo que venha ditar nossa conduta, é uma percepção que no passado (em eras religiosas e patriarcais) fora muito surrada,  porque vai contra a visão travada moralista daqueles que se entregam por inteiro a abstração ética e moral.

O herói dos fracos então, é aquele que consegue explicar a vida de forma mágica e simplória, apelando para crenças e conceitos além da vida. Utilizando de um mundo paralelo para trazer ideologicamente as pessoas à noção de irmandade, à noção de fraternidade, à noção de que onde quer que você vá existe algo lhe acompanhando, seja esse “algo” Deus, anjos, até idéias e leis....

Esse tal herói dos fracos é movido por insígnias, precisando que o maior número de pessoas possíveis acompanhe seu raciocínio como correto. Ou seja, ele é movido pela mentira de achar que o amor encontra-se no objeto, quando na verdade ele ama o desejo que sente no momento que agrada ao maior número de pessoas possíveis. Não é um herói por si, é sim um herói para os outros, pelos olhos dos outros, pelos valores dos outros, pela ética constituída, pela a moda nova a ser seguida, e mentindo pra si mesmo essa sua condição.

Em Nietzsche fica clara então a noção de rebanho. Onde um pastor rege suas ovelhas. Ovelhas tais que não se enxergam, nem mensuram a pluralidade de suas vísceras mais sutis.
A questão aqui não é falar de autoconhecimento, mas sim de que o autoconhecimento não existe, logo que se autoconhecer seria uma ilusão se olharmos o foco de nossos dilemas em nós mesmos. Pois se aniquilamos nossos bens e valores por objetos novos, cenários novos, situações novas, e precisamos o tempo todo despender de raciocínios lógicos que superem o medo e absorvam conseqüentemente a realidade em busca de subsídios materiais, então, somos uma espécie totalmente voltada ao devir
Nos transformamos o tempo todo, a cada dia somos novas pessoas. E, assim, se idéias concretas, valores concretos e estigmas é o que move cada ato medroso da gente, então é sinal de que a fraqueza tomou conta de cada veia espalhada pelo corpo.

O medo existe e é intrínseco, ele é nosso... 
Mas a forma como lidamos com ele; a forma como nossas vontades nascem após esse medo inicial é que expressa o que estamos fazendo aqui... Se estamos brincando de ovelhas e pastores, ou se estamos entendendo a tragédia da vida no exalar de nossos receios mais profundos... até instintivos, gerando a tal da adrenalina que nos prepara para o combate. 
Isso advêm da forma como idealizamos e nos integramos ao próprio medo.

Ter medo e desejar são as estruturas que dão base a cada passo que damos.

Negar o desejo eticamente é viável. Faz parte daquilo que a sociedade espera que façamos. Não ouvi-lo, rechaçá-lo, fingir que não existe é como um herói dos fracos afirmar que não tem medo. É mentira!!! Pura mentira.

Aquele que afirma não desejar e não ter medo é o mais fraco do bando tentando se passar por Alpha. Quem utiliza da ética o tempo todo para julgar seus semelhantes, quem utiliza de crenças religiosas e regionais para formar a opinião sem levar em conta sua própria orfandande perante àquilo que não se propõe a vivenciar , experimentar e entender, no fundo está tentando manipular o resultado a favor de um interesse sórdido não discernido... 



Amamos o desejo antes de amar o objeto.

E entender isso com calma e flexibilidade pode fazer com que olhemos os objetos com mais poesia, muito mais poesia...
poesia, adrenalina e amor... rsrs 





Acho que fui meio abstrato né rsrs!    





Fernando da Silva Ribeiro (Sinnentleerten)

3 comentários:

  1. Puxa! Trouxe-me excelente relfexões. Obrigada!

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  2. adorei seu txt e o tema, prfv vc poderia me indicar alguns livros e textos para estudar o assunto?!

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  3. O que tenho a dizer sobre esse texto. Sensacional!!!!!

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