quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Cruzes, pregos e velhas intenções

Ela era assim...
Um tanto insegura nos gestos com certo sarcasmo no olhar.
Um quadro exposto cheio de negações e sintomas... Sintomas de apatia, de uma vida arrastada na falta dos mimos, símbolos de sua antiga e remanescente adolescência.
O fato de não ser mais o centro energético das coisas corroíam sua consciência que na crença absurda investia forças dando sentido a todos os seus atos... Atos ácidos, que em seu íntimo delineava a inveja contra tudo aquilo que alguém poderia criar.
Não entendia... Não aceitava e repelia o poder de criação no outro, logo que o “poder” em sua visão é algo divino... Lembro de suas palavras: “somos covardes para criar por nós mesmos”.
Ela era assim...
Beber e pedir perdão, transar com a mão no coração...
Olhos cegos e mente fértil, ouvidos surdos e boca erétil pronta a desmantelar, a martelar, a trucidar visões alheias
pedra e areia...
Não mais viver, não mais sonhar...
Ela era assim...
Mentindo para si mesma, um jeito de sustentar o local imaginário, ordinário...
Uma criança ciumenta de coisas... Coisas que nem são suas; não são minhas e nunca serão de ninguém...
Um harém que em seus castelos de barro despencam na noite escura e fria com a cabeça em cima do travesseiro... Rica em desespero... Cruzes, pregos e visões heróicas de um mundo sujo...

Comunhão nas sombras... Velhas intenções...    

O sujo encobria os sonhos e lhe fazia refém das próprias convicções... 
Música no rádio, o filme na TV... o pastor conduzindo ovelhas... Centelhas que invadiam sua carência lhe entregando clemência, acalmando seu ódio em momentos barulhentos...
No silêncio não existia, só consegue pulsar com alguém!... Um alguém que possa nutrir afetos, entregar seus pontos e dizer rasuras, julgar certezas... Vivenciar o ódio... Amigos não... Espelhos apenas

Em seu silêncio e isolamento, um lamento...
se arrepender jamais...
um choro no chuveiro...
negligenciando a dor ... “o amor é para os fracos em seu afogamento no náufrago” que lhe impede de andar, de voar, de saber...
Pois os pastores lhe dão certezas... Certezas incertas e desertas... Nas arestas de tudo o que diz e ninguém quer ouvir...
O demônio surgido, renascido em forma de cristo, ramificado em soluções... Em auto-ajuda...

Morrerá...
Uma hora morrerá... Seus sons ficarão; suas pernas e seus passos não terão dado nada em prol de si.. só para os outros... uma culpa curtida em óleo... um gosto amargo, irrisório.. dons desperdiçados... rasgados sem o uso, sem lapidar...

O mundo não é o mesmo... a voz calada não bramiu
O vento sopra aqui fora e ela não sente o rosto frio...


 Fernando Ribeiro (Sinnentleerten)

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