quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Interpretação do último post

No último dia 25 postei uma narração em primeira pessoa de um cara ex viciado em cocaína que encontrava-se trabalhando numa empresa a quatro meses e que decidiu colocar um fim a vida de sua supervisora no trabalho.

A princípio parece ser um texto simples.  Porém, foram muitos questionamentos referente a atrocidade e gratuidade do ato do rapaz, e o vácuo de algumas pessoas que de repente não pescaram a mensagem por trás da pequena história trash me deixa incumbido de explanar um pouco sobre o que eu tentei expressar...

O texto é uma analogia não muito palatável e a cocaína vem para representar a fé...
Cremos por vício.
A crença (em suas diferentes vertentes) é nosso vício cultural, perpassado por nosso pai e nossa mãe, nosso avô e nossa avó, nossos professores, amigos, etc. todos que mostraram uma imagem semântica de Deus e Símbolos que serviriam como responsáveis por aquilo que nossa mente ainda infantil seria incapaz de pensar e formar opinião...

domingo, 25 de setembro de 2011

Podre, Pobre e Rabiscada

Acordo com o celular tocando alto pela terceira vez em quinze minutos, são cinco e meia da manhã. Levanto sonolento e me deparo com olheiras enormes deixando claro que não tenho uma boa noite de sono há algum tempo.
Não durmo bem por vários aspectos, e se me perguntarem algum em especifico não conseguirei sem  que aponte junto os outros motivos.

Trabalhar, estudar... Chego em casa meia noite e quarenta e tenho de me preocupar em como administrar a minha chefe no serviço.
Aceitei esse emprego por desespero, indicado por um amigo de outro setor... um salário idiota... Precisava pagar as contas atrasadas.
Mas hoje é assim, você não trabalha para ganhar seu sustento e sim para aturar pessoas... Você é pago para isso.
Eu poderia, nesses meus vinte sete anos de idade, olhar para as relações que somos obrigados a aturar de uma forma infantil, espiritual.. Pensar que por trás de tudo tem um motivo, mas não consigo. Sou tomado de ódio nesses quatro meses que estou trabalhando junto dessa mulher.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Viral nas Sombras


Acordando cedo e indo trabalhar
Vivendo pra não morrer, morrendo pra se atrasar
Atrasando os ponteiros que insistem em girar...
Roendo as unhas segurando o desejo em uivar
Um gole de café e um estalo em seus dedos
A dor nas costas frente à viagem entre morcegos...
Não mais sonhar, não mais querer
Querendo um pouco mais do que já se tem
Não mais vencer, não mais amar
Amando a solidão dos metrôs em vai e vem

O cinza frio
O jaleco escuro
O grito abafado pelo silêncio dos muros
Cercas e alarmes
Felicidades e dor
A cor de tantos em contraste de tristeza e horror

Cadê aquela ingenuidade e crença?
O gosto amargo assinando a sentença
De uma vida fria no bloqueio insone
Mesa farta de alimentos podres

Quem vai dizer que ele não viveu?
Quem irá mentir dizendo que ele não existiu
Caiu, dançou
Sem identificação
Identificado em nuances na multidão
Sem voz dizendo o que todos dizem
Sem direção seguindo as diretrizes
Cegueira ardendo enternecendo a carne
Viral nas sombras no presente único que invade

Não mais crescer! Não mais brindar!
Mirando as nuvens e no vento se soltar
Atalhos...
A mentira que rachou explicações que nunca virão...
Na  sensação de sumir vivendo o que não sabe
Imprimindo rabiscos de Sade
Engolindo por engolir, mastigando por precisar
Vícios  na brisa de um pensamento que me ilude ao elucidar...

E em torpor,
Ao sorrir o que eu sou?



F. Sinnentleerten

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Cruzes, pregos e velhas intenções

Ela era assim...
Um tanto insegura nos gestos com certo sarcasmo no olhar.
Um quadro exposto cheio de negações e sintomas... Sintomas de apatia, de uma vida arrastada na falta dos mimos, símbolos de sua antiga e remanescente adolescência.
O fato de não ser mais o centro energético das coisas corroíam sua consciência que na crença absurda investia forças dando sentido a todos os seus atos... Atos ácidos, que em seu íntimo delineava a inveja contra tudo aquilo que alguém poderia criar.
Não entendia... Não aceitava e repelia o poder de criação no outro, logo que o “poder” em sua visão é algo divino... Lembro de suas palavras: “somos covardes para criar por nós mesmos”.
Ela era assim...
Beber e pedir perdão, transar com a mão no coração...
Olhos cegos e mente fértil, ouvidos surdos e boca erétil pronta a desmantelar, a martelar, a trucidar visões alheias
pedra e areia...
Não mais viver, não mais sonhar...
Ela era assim...
Mentindo para si mesma, um jeito de sustentar o local imaginário, ordinário...
Uma criança ciumenta de coisas... Coisas que nem são suas; não são minhas e nunca serão de ninguém...
Um harém que em seus castelos de barro despencam na noite escura e fria com a cabeça em cima do travesseiro... Rica em desespero... Cruzes, pregos e visões heróicas de um mundo sujo...

Comunhão nas sombras... Velhas intenções...    

O sujo encobria os sonhos e lhe fazia refém das próprias convicções... 
Música no rádio, o filme na TV... o pastor conduzindo ovelhas... Centelhas que invadiam sua carência lhe entregando clemência, acalmando seu ódio em momentos barulhentos...
No silêncio não existia, só consegue pulsar com alguém!... Um alguém que possa nutrir afetos, entregar seus pontos e dizer rasuras, julgar certezas... Vivenciar o ódio... Amigos não... Espelhos apenas

Em seu silêncio e isolamento, um lamento...
se arrepender jamais...
um choro no chuveiro...
negligenciando a dor ... “o amor é para os fracos em seu afogamento no náufrago” que lhe impede de andar, de voar, de saber...
Pois os pastores lhe dão certezas... Certezas incertas e desertas... Nas arestas de tudo o que diz e ninguém quer ouvir...
O demônio surgido, renascido em forma de cristo, ramificado em soluções... Em auto-ajuda...

Morrerá...
Uma hora morrerá... Seus sons ficarão; suas pernas e seus passos não terão dado nada em prol de si.. só para os outros... uma culpa curtida em óleo... um gosto amargo, irrisório.. dons desperdiçados... rasgados sem o uso, sem lapidar...

O mundo não é o mesmo... a voz calada não bramiu
O vento sopra aqui fora e ela não sente o rosto frio...


 Fernando Ribeiro (Sinnentleerten)

A certeza de algo que não podemos aceitar

A Vida é Dor. Quem deseja, sofre; quem vive, deseja; a vida é dor. Quanto mais elevado é o espírito do homem, mais sofre. A vida não é mais do que uma luta pela existência com a certeza de sermos vencidos. A vida é uma incessante e cruel caçada onde, às vezes como caçadores, outras como caça, disputamos em horrível carnificina os restos da presa. A vida é uma história da dor, que se resume assim: sem motivo queremos sofrer e lutar sempre, morrer logo, e assim consecutivamente durante séculos até que a Terra se desfaça - Arthur Schopenhauer

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

O odor e a nossa própria contradição

O homem é resultado daquilo que ele pensa sobre o mundo, do que o mundo pensa a respeito dele, e do que ele pensa sobre si mesmo... Schopenhauer disse algo assim, não me lembro se foi exatamente com essas palavras e estou com preguiça de ver no livro a página que grifei...

Nascimento da criança geopolítica (Salvador Dalí)
Não há como negar que o homem vive dentro de uma cela. Muitos filósofos explanaram sobre isso (Os que mais me agradam são: Nietzsche e Zygmunt Bauman)... é óbvio que se olharmos ao redor e enxergar como muitas pessoas estão esperançosas com seus planos por comprar um produto novo do mercado, uma casa própria, um carro do ano... alegres por terem maiores facilidades em adquirir bens, tenderemos a pensar que nosso país está crescendo, que o mundo nos acolhe e a sociedade está "feliz"... ao olhar o sorriso de um colega que ora na igreja ou no centro espiritual por luzes em sua vida mal discernida conduzida por políticas econômicas abstratas pelo seu senso nebuloso, que "dá certo" sem mensurar referente ao grilhão que o acorrentou desde o momento em que nasceu... é óbvio que o primeiro impacto é achar que essa sociedade está conseguindo nos oferecer aquilo que a modernidade tanto sonhou... a tal da "liberdade"... tão sonhada por uns... tão deturpada por outros...

Mas quando digo sobre estar preso numa cela, não é por achar que esse nosso conjunto de regras bem constituídas (bem escritas pelo legislativo) estejam incorretas em sua essência (intenção por trás da ação)... é um vagar por caminhos que não enxerga semblante positivo nessa dependência... esse nosso "ser" precisando de outrem de uma maneira esmagadora... teorias de mercado... cursos de finanças... medos e valores sintéticos...

Vidas desperdiçadas... vazias... remediadas...num cortejo fúnebre rumo ao nada... ali batido, entre o certo e o errado, a tradição do local e bloqueio global... na alienação "do que é dito, do que é visto... acesso é o poder e o poder é a informação"...


O odor de um livro que precisa ser fechado para que as demandas de um dia de trabalho possam ser atendidas faz desacreditar que a cidadania sirva de alguma coisa no final das contas... quem descobriu o Brasil? quem revolucionou o quadro político e social no ocidente? quem foi Marat? quem foi Adam Smith?... eu  questiono sussurrando pra mim mesmo olhando para o teclado... quem foi você? quem é você? quem somos nós?

A hora que mais me sinto bem é quando consigo esquecer de quem eu sou... não mais o mundo e eu e não mais eu e o mundo... sem o dever... sem o estar... sem o parecer... quando o que reflito não tem mais haver com o que o espaço desenhado espera de mim...

São questões que os donos de nossas empresas nunca ouviram e nem ouvirão falar, perdidos em números e gostos sofisticados (uma cultura elitizada, sem paladar, soberbada e envaidecida) ditando regras éticas, estéticas e estáticas... da mesma forma que no passado o senhor de engenho, em sua fazenda perdida no meio do nada, era tão ignorante quanto os escravos dos quais era dono... só a cor os diferenciavam...

Ainda somos essa mesma sociedade...

Enquanto nos porões das fábricas nosso suor move as máquinas, a fumaça cinza apaga o sol... os Zyklom b estão por toda parte.... na propaganda e nos livretos de alto ajuda que nada dizem e tudo dão... dão à ignorância o sabor superficial que engana o azedo da morte, e o corante ao escuro abismo do latejo neural.

Davi e Golias (Michelangelo)
A miséria nossa que a sociedade do espetáculo não nos deixa ver... trancafiados no que precisamos parecer, para não perder o pequeno nada que conseguimos... correndo entre gigantes mortos em castelos do céu...
num tenro véu... entre o dever e o estar, o moral e o imoral... a cantiga e o grito... 
sempre haverão dois lados...
a concordância, o comumente, o cômodo.... e a insônia insana irracional que não aceita entrar nos trilhos... sem conservadorismos, sem militância didática... a escola nos transforma, o mercado nos utiliza... nossos sonhos se vendem... e Kafka adentra meus lençóis...

...Amanhã comprarei algo pela internet...


Fernando da Silva Ribeiro (Sinnentleerten)

domingo, 4 de setembro de 2011

Limiar



No fim de tudo o que eu sei
De tudo que eu digo
... No fim de tudo o que enxergo
É onde você está...
É no limite das coisas que eu encontro você
É no silencio dos olhos que trago a névoa cintilante que ludibria o espetáculo e me faz crer em algo que nunca existiu
No limite líquido é que eu existo um ser viril...
Atravessando a ponte que crio até aí
Diante de toda a covardia brindo e mendigo uma terna e longínqua coragem
Insistindo nessa louca viagem por ilhas inóspitas nunca antes aventuradas
Por portos inseguros e ensolaradas praias que me mostram claramente a insanidade em que me encontro aqui agora
No limite de seu jardim, atirando pedras em sua janela... Pensando em como seria ir embora...
Como seria se o horizonte não obtivesse suas cores... Se o termômetro não tivesse o seu nome...Se os meus vícios não fossem por ti...
Mas ainda sim no limite de teus quadris insisto em ficar...
Até que o tempo venha borrar essa linda pintura que criei em seu esboço
Esse lindo sentimento que tenho toda vez que olho o seu rosto intensificando a liberdade única de criar e projetar desejos
Nesse sol escaldante do seu mundo esqueço todos meus receios flutuando rumo aos céus infinitos e herméticos
 Num cenário de certezas tropeço sendo herético
Pois o limite me faz crescer, ele me faz brincar...
O limite que me encanta ao ouvir sua voz me faz sonhar

Fernando Ribeiro (Sinnentleerten)

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Quando os olhos traem




Maria Fernanda fechou os olhos por aproximadamente vinte segundos e os abriu deparando-se com um teto espelhado a refletir dois corpos nus saciados de tanto desejo.
Ainda respirava ofegante refletindo sobre os porquês daquilo tudo... Estar ali naquele momento representava a quebra de um silêncio  ao qual sua vida parecia fadada a terminar, um silêncio quebrado por descobertas das quais nunca esperou vivenciar.
Olhando nos olhos daquele homem que ela mal conhecia dava asas à memória que se rebelava dentro de sua consciência gritando os  dolorosos dias vividos por descobrir que o seu mundo desmoronara desfacelando todos os pequenos valores que um dia chegou a acreditar.
Descobrira que seu noivo a traíra com sua melhor amiga debaixo de seu nariz. Ela que mesmo não tendo grandes certezas a respeito de seus sentimentos dentro do relacionamento, nunca ousara perder o fio de sua condição de mulher independente que numa luta ideológica feminista ainda dava crédito a valores como amor e amizade, buscando assim uma espécie de idealização que pudesse alimentar impulsos em prol daquilo que a sociedade "média" chamaria de sublime.
Estar nua com aquele homem era nítido fruto de sua revolta... Seu corpo se rebelava por ser explicitamente expulso da rede segura da qual vivera por vinte e cinco anos de sua vida... Suas crenças eram agora questionadas com ódio e densas lágrimas que num esforço por não declinar se armavam como flechas atirando para todos os lados com o objetivo de mostrar para si que a vida poderia ainda valer a pena de alguma forma.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...