terça-feira, 12 de junho de 2012

Objetos e Adjetivos


Ela saiu atrasada, mal teve tempo de fazer maquiagem e comer algo.

Garoava e fazia frio, e o trânsito estava intenso. A velocidade dos dias estava fazendo a vida sempre igual. Trabalho, faculdade... Tudo se repetia com as mesmas cobranças, os mesmos caminhos, as mesmas alegrias e preocupações.
Independente, vinte e oito anos e algo estava faltando. Alguma coisa no vácuo dos compromissos incomodava seu reflexo no espelho dos elevadores ultimamente. Não era beleza, nem problemas de relacionamento com pessoas.

Conforme todas as revistas famosas que acompanhava, palestras que assistia, filmes e cultura que absorvia, essa insatisfação diária era tratada como normal para uma mulher do século XXI. Estar dentro de um ambiente balizado e polarizado em desejos e satisfações traria conseqüentemente na linha do senso comum certo grau de desconforto, e isso seria normal.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Calvário


Das vezes que fiz questão de algo o mundo me mostrou o quanto não é fácil vislumbrar
O quão não é saudável desejar...
Depender é sempre a pior mentira
Despender é sempre a pior fraqueza
E é essa mentira e essa fraqueza as quais mais sofremos, as quais mais sentimos e nos agarramos
Pois depender do silêncio, do semblante e despender o "eu" nos jazem algo inevitável...
Inevitável querer que a noite fria seja dia de primavera

Mas no fim sempre sou eu e o silêncio,
eu e minhas cruzes...
Os olhos daqueles que um dia gostei não podem ver os pesos e medidas por trás de cada ida, cada volta
Então irei...
Irei como sempre fui ao lado de minha amarga revolta decaída
Surrada, mal entendida...
Envelhecendo a cada tempo, tropeços e trapaças
Fugindo de mim mesmo e me reencontrando afinal com o “eu” que me espera... que sempre me esperou
Me acudiu quando o vazio tornou-se pesado...
Pois sempre que esperei alguém fui enfim o algoz capaz de machucar
Machuquei sem querer, sem imaginar que meus dardos carregavam venenos letais...
Mas machuquei!
Fiz feridas reais... E na verdade não sei se me arrependo
Não há como nos arrepender quando não sabemos onde erramos
Quando não sabemos aonde vamos... Quando temos o defeito de olhar pro céu e esquecer da terra, do chão
E em vão colho ilusões... ilusões e culpas...
Colho aquilo que plantei, as conseqüências dos meus atos proditores

Então irei... irei para bem longe, onde nada nem ninguém será tão perto e tão capaz de me afetar
Irei pra onde não infectarei os poros, nem a água, nem o ar...
Onde minhas palavras serão do caos, dos raios e da noite
E meus ouvidos serão sensores e não coletores de sabores pecaminosos
Que aprazerem e depois castigam

Coletar abismos dói...
E das dores que trago em meu peito
Sei que meus erros as fazem parecer nulas
Das marcas que carrego aqui dentro
Sei que meu sorriso as  fazem parecer invisíveis, chulas
Minhas lágrimas solidificadas se quebram diante desejos e barreiras
Diante as conveniências e hipocrisias

Em meio a luzes, drinks e tragos ouço vozes, sinto toques, beijo lábios...
Conversas, ilusões espalham-se no espaço espelhado
E meu reflexo é trágico, no calvário com olhos sedentos e diabólicos...
No fim sempre sou eu e o silêncio,
eu e minhas cruzes...


Fernando Ribeiro (Sinnentleerten)

sábado, 2 de junho de 2012

Fuligens no céu

É bom ler...
Cansativo, relativo... mas faz bem.

De alguma forma quando lemos não precisamos mais ficar a mercê dos julgamentos daqueles que por fraqueza ou preguiça se veem como donos de uma razão intrínseca e moral sem o espaço para questionamentos.

Eu não sou  daqueles que saem por aí tolamente tentando mostrar ao mundo a importância que um pensador teve ou tem à humanidade. Socialmente me coloco mais numa posição de observador perante as coisas inúteis e atitudes vazias que rolam por aí.
É lógico que tais coisas e atitudes passariam em vão se eu não fosse um leitor de Bauman, Schopenhauer ou Sade, e mais alguns que auxilia-nos a ter ferramentas quando as coisas ficam realmente difíceis de levar...

Mas assim, é bom ver, perceber o que na sociedade ocidental contemporânea é alienação, o que é patologia, o que vem da mentira e o que deriva da verdade (verdade aqui vista de uma perspectiva não muito pretensiosa se levarmos em conta que ela varia do seu grau de pragmatismo).

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