sexta-feira, 16 de março de 2012

Totalitarismo anti vícios

Ser propenso a fazer o bem é ser virtuoso aos olhos da ética, aos olhos dos outros.
Quando se faz algo que a sua comunidade local enxerga como o certo, logo os olhares externos lhe entregarão o símbolo da virtude, ou seja... ser virtuoso tem a ver com o que de você serve aos outros, o que de você seja em pensamento ou atitude é capaz de ser absorvido como exemplo a ser disseminado como ideia concreta e moral.

O vício em contrapartida é aquilo que carregamos como hábito individual e que ao contrário da virtude não é bem quisto pela ética.

Devemos deixar claro que a ética se transforma o tempo todo, ou seja, na sociedade escravocrata era ético achar que os negros e os índios eram espécies inferiores que precisavam viver uma vida servil àquilo que o homem branco acreditava.


O índio era aquele que seria catequisado pelos padres a princípio e os negros seriam utilizados como força de trabalho. Aos olhos dos lusitanos eles eram os errados, de uma forma ou de outra eles tinham de pagar um preço por terem nascido dentro de comunidades sem as tecnologias europeias, que até então eram as mais avançadas, e a visão eurocêntrica cristã tida como a encarnação das forças do universo num centro gravitacional.

Assim, um índio capturado que fosse catequizado e depois utilizado pelos colonos como força de trabalho, se nesse meio tempo apresentasse formas de enxergar e hábitos que insinuassem sua diferença entre o brancóides, seria vinculado àquilo que era tido como anti ético. 

A virtude é a defesa do concreto de uma sociedade... Ou seja, para que se possa manter a forma de um aglomerado de regras utilitárias de progresso e sobrevivência de uma sociedade é preciso ter quem as defenda... 
É óbvio que não basta apenas uma constituição para que as regras sejam seguidas e disseminadas, é necessário que nasça o engajamento de muitos dentro da massa que ajude a potencializar o que está escrito nos livros daqueles que detém o poder.

Assim, se a Coroa de Portugal decretou que o papel dos colonos era inserir dentro da américa a cultura lusitana, então quem seriam os índios para questionar e os negros para discordar, sendo que as famílias portuguesas que aqui se instalaram tinham na mente de que era missão colocar em prática, seja pela força ou pela cultura, a concreticidade daquilo que seus superiores cunharam em determinado momento?
É claro que hoje estamos dentro de uma sociedade ocidental que ultrapassou essas formas arcaicas de pensamento, porém o modelo continua sendo o mesmo. Ainda temos regras sociais que se disseminam através da massa sem que esteja explicito que essa disseminação tem o cunho de proteger os interesses maiores de uma minoria que detém o poder.

A virtude sempre está coligada com o que a maioria toma como correto, assim, está ligada com as intenções daqueles que detém o poder. E o vício é incorreto visto também dentro dessa perspectiva que a rechaça como maléfica diante os interesses maiores conscritos na sociedade laica.

São divisões hierárquicas bem desenhadas que tem como objetivo frear a tendência humana aos vícios e lapidar as virtudes. Um exemplo são os professores, que sendo ferramentas do sistema estão condicionados a nos entuchar conteúdos e cobrar em provas se realmente assimilamos aquilo que foi vomitado em sala.
Há um interesse virtuoso por trás disso.
Se você tomar partido do passado e traçar uma ordem cronológica das injustiças históricas e se voltar contra a cultura de capital que tende a amenizar esses conflitos intelectuais em prol de uma ética de consumo, amena e conformada com o concreto atual, logo os dedos lhe indicarão como alguém fora da trilha das virtudes.

Então, vendo de uma forma mais psicológica, somos filhos de pais que se casaram na igreja para agradar a idéia disseminada de que casar na igreja era o correto perante os olhos julgadores da comunidade em que habitavam. Assim, eles fizeram o virtuoso e a nós a mesma ideia foi passada, juntamente com outras questões sociais e educativas. Recebemos os preconceitos e as posições e só após algum tempo conseguimos obter a possibilidade de questionar se toda essa carga que recebemos realmente é a verdade.

Uma coisa é a verdade, outra são regras pré estabelecidas advindas daqueles que por acherem que estão fazendo o bem e o correto, nos enchem de simbologias e trilhas a serem seguidas.

Um professor pode ser muito inteligente defendendo o populismo de direita como única opção após os colapsos dos regimes militares e comunistas seguido agora com uma abertura sem controle das portas estatais a economia globalizadora, e outro pode também ser muito inteligente questionando se ser uma sociedade consumista e globalizada nos faz mais evoluídos do que alguém em determinado período na história.
Mas na democracia, onde a massa alheia a assuntos pertinentes a força que os comanda a pensar e agir dentro dos interesses de outrém, logo pode considerar o professor questionador como desordeiro, ou seja, o bruxo contemporâneo que não se propõe a dar fórmulas mas sim problemas.

Bom, daí podemos separar o que é social e o que não é.
O social é o externo ditado que nos adentra internamente e conflita com nossas imaginações. O social só pode ser questionado se utilizarmos ferramentas para a tarefa. 
Existe um conflito de virtudes, onde defendemos idéias que julgamos virtuosas em contraposição a outras idéias virtuosas vistas por certas pessoas (a maioria), mas que já não tendemos mais seguir justamente por estarmos nos conectando em outros tipos de questionamentos.

O vício surge daquilo que não pode ser entendido e aceito por todos (pela maioria) como benéfico.

Enquanto as virtudes são perfeições de hábitos de pessoas moralmente integradas ao que se espera delas em cada sociedade, os vícios são hábitos que não se integram, e que por não se integrarem são tidos como maléficos... e justamente por serem tidos como maléficos é que se torna uma doença, algo fora de contexto social e utilitário.


Kant no século 18 faz um questionamento: existe um progresso de verdade na história? (No sentido de progresso ético, liberdade, e não simples desenvolvimento material.)
Kant admitiu que a história real é confusa e não permite provas claras.
Assim, a democracia, considerada uma das maiores conquistas do século 20 é um fenômeno que dá voz a maioria na rotina do dia-a-dia. Se antes o certo era ditado por poucos (aristocracia monárquica) e as virtudes atitudes e pensamentos dentro do contexto que satisfizessem a ordem concreta... Hoje de nada mudou.
Temos a liberdade de expressar, mas ainda se é alvo daquilo que no humano independe de evolução tecnológica. Se antes se queimavam bruxas (seres anti éticos tomados por seus vícios), hoje a fogueira é a taxação democrática da maioria (o politicamente correto). Não mudou muito de lá pra cá. A sociedade tomada pelos cursos espíritas, livros de auto ajuda, teorias de melhoria contínua e sustentabilidade joga a massa na posição de detentora da missão de fiscalizar cegamente os viciados naquilo que se pode ser considerado incorreto dentro do espaço público em prol de um progresso material, econômico e autoritário.
  
A busca pela virtude, paz de espírito, fé, esperança continua sendo o maior perigo, pois o cidadão comum de hoje não quer saber se a ética é uma coisa pré moldada, ele simplesmente bota na cabeça o que acredita como certo e sai com seu pendor as ruas já tendencioso em julgar as coisas de acordo com suas crenças (sejam elas culturais, religiosas e intelectuais). A essência do totalitarismo não é apenas governos fortes no estilo do fascismo e comunismo clássicos do século 20. Mas sim a integração da massa nas ideias pré estabelecidas travestidas de bem comum. Assim, hoje não é só o Estado o agente para que tenha o povo como parceiro de suas artimanhas, mas também as empresas privadas que necessitam da aprovação do povo para que sua longevidade perdure.
Achando que o estado primando pelas virtudes servis irá te dar melhores condições de trabalho com 200 reais a mais no seu salário, faz com que você se torne um agente das virtudes.

Muita gente junta primando pelo bem não cheira muito bem. 
Pense que os nazistas queriam o melhor para o mundo.

"Querer o bem de todos é a característica do totalitarismo que sempre nos escapa, porque ficamos presos nas caricaturas de skinheads", punks, e viciados.
O que move uma personalidade totalitária é a certeza de que ela está fazendo o “bem para todos”, não a vontade de destruir grupos diferentes do dela.

Essa ofensiva do capitalismo global e seu duplo espectral fundamentalista tras uma série de eventos que só podem ser designados sublimes, pois é a maioria quem as julga.

Cada mente é um mundo ordenado pela própria mente de quem pensa e imagina. E cada mente para se sentir inserida na realidade precisa que outras mentes lhe digam que o que pensa está dentro da ordem externa.
Porém nessa troca, o vício é esquecido, pois para se integrar ao que a maioria está entendendo a mente precisa negar os vícios. Negando os vícios  você adentra no mundo desenhado social que prima pela ordem e desvincula o caos como probabilidade... E o vício fica então virado ao caos. Negado, pisado, interpretado pela ética e pela moral como algo que precisa ser concertado ou descartado.

Mas todos temos vicios, ele é intrínseco. Nenhum psicólogo analisa um paciente por suas virtudes, ele vai direto no vício. Adentra no passado para saber onde é que o corpo e a mente precisou criar hábitos que preenchessem as lacunas que nem a mais sublime virtude poderia preencher

O vicio é algo que clama por liberdade, um hábito que ao ser produzido busca na perspectiva do viciado nutrir aquilo que na vida em grupo jamais conseguiria. Pois o grupo lhe aponta o dedo e o julga e se necessário lhe dá adjetivos desvirtuados.
O grupo eticamente moldado vive a ilusão de pensar além dos medos e desejos humanos com benevolência e o hábito de respeito ao bem comum, enquanto que o vicio de um individuo é o medo e o desejo humano desprendido dessa porra toda.

A grande questão é achar que o vicio de um individuo é capaz de desorientar a tal ordem mesquinha ética e moral em que vivemos, quando a massa é que se encontra capaz em prol de qualquer delírio influenciado por ordens maiores a destruir a liberdade do ser humano em contemplar e realizar seus vícios.



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