
"...Desde que nos propomos emitir uma verdade de acordo
com as nossas convicções damos logo a impressão e fazer retórica. Que espécie
de prestidigitação vem a ser essa? Como é que nos nossos dias não poucas
verdades, proferidas que sejam, por vezes, mesmo em tom patético, imediatamente
ganham aspectos retóricos? Porque é que na nossa época cada vez há mais
necessidade, quando pretendemos dizer a verdade, de recorrer ao humor, à
ironia, à sátira? Porquê adoçar a verdade como se se tratasse de uma pílula amarga?
Porquê envolver as nossas convicções num misto de altiva indiferença, digamos,
de desprezo para com o público? Numa palavra, porquê certo ar de pícara
condescendência? Em nossa opinião, o homem de bem não tem de envergonhar-se das
suas convicções, ainda mesmo que estas transpareçam sob a forma retórica,
sobretudo se está certo delas..."
Fiodor Dostoievski, in 'Diário de um Escritor'
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