terça-feira, 9 de julho de 2013

Longe das Praças


A probabilidade do caos incomoda aqueles que após terem acendido a chama do conhecimento através da dialética e também de seus atos empíricos, começaram a julgar que nada seria mais justo do que através da razão tentar ordenar os fatos para que fosse construído o concreto que basearia teoricamente tudo o que pudessem tocar no âmbito do pensamento. É assim a filosofia política , a filosofia da educação que pretendem responder ou quase que por vício ditar quais devem ser as indagações alheias de seus alunos, colegas e qualquer um que porventura atravessem o seu caminho "profissional".

A sabedoria da academia, econômica e política tem seu fim marcado antes mesmo de seus meios, e nesse exercício predatado, por mais que tentem parecer esteticamente como guerreiros contra algozes da ignorância , se prendem fundamentalmente nos elementos constitutivos básicos dos quais a totalidade do universo seria constituída  "dentro de sua cabecinha". 


Para esses tais sábios detentores dos rodapés de nossos anseios, sujeitos que não obedeçam e não estejam dentro de seus arquétipos de comportamento, e que em sua maneira subjetiva apresentem comportamentos que "ostentem excessiva juventude e entusiasmo" não são em si dignos de nota... Ou seja, "jovens são híbridos, restos do que a modernidade tentou mas não conseguiu executar no campo da realidade", "vítimas dos populismos de direita, utopias socialistas e comunistas de esquerda", neoliberalismos preventivos e corretivos da sociedade. E se em uma cultura como a brasileira apresentem posicionamentos radicais (como pessimismo e ceticismo político), devem buscar conhecimentos para entenderem o fio da meada que não estão conseguindo entender por preguiça ou doses de vaidade... rsrs... Dessa forma, parece até que tais pensadores olham a existência social como uma coisa boa, como se na relação entre as pessoas comuns não houvesse problemas bem mais complexos do que uma simples resolução advindas de teorias representativas. 

Mas olha só, para um jovem cético, descendente de pobres operários, corretores, fazedores de pão e pedreiros, dignos de nota são os flashs que nos vem a mente quando toda vez que seguimos um raciocínio e logo a dúvida nos trava em perguntas que nos ramificam a outros e outros tantos assuntos enveredando em respostas "quase sempre sem respostas"... O que quero dizer com isso, como Umberto Eco já dissertara, críticos e funcionalistas, apocalípticos e integrados sempre dividem o mesmo espaço na praça... E quando não obedecemos a uma ordem pedagógica que nos guie ao conhecimento e a sabedoria, logo conflitamos com várias posições idiossincráticas que tentam na essência e no teor de suas dúvidas e convicções nos moldurar aos ramos e vielas já decalogados por séculos e séculos de nossa sociedade movida e administrada por contratos.

Existe uma diferença monstruosa entre a sociologia de botequim, a filosofia de mendigo, a antropologia de artista e toda a ideia perene e associável que nos aparece nas academias  e discussões públicas entrelaçadas pela mídia (Mídia entendido aqui como meios de comunicação social)... Pois para um intelectual guiado pela concreticidade simbólica de seu currículo e seu "papel" dentro da sociedade (seja professor ou qualquer bosta subsidiado para manter um posicionamento opinativo sobre as coisas), não há viés que possa fugir aos três ramos que perpetuam a existência das tendências de códigos de conduta dentro do ocidente globalizado (política, economia e imprensa), pois por mais que tenham técnicas e habilidades cognitivas, seus perfis deixam claro o quão integrados ao verticalismo de ideias se encontram...

Um ponto fundamental a se analisar nesses perfis é a naturalização daquilo que já está escrito. Como bons intelectuais, já se definem como esquerda e direita, conservador ou idealista, pragmático ou transparente (solúvel)... E por mais que se olhem no reflexo do espelho como livres pensadores, quando falam e escrevem se renascem apenas falidos em teoremas e elementos formais que por mais concretos que seus argumentos tentem parecer simplesmente fazem parte de um caleidoscópio metafisico criado para discussões nas "praças" (políticas, econômicas e de sondagem midiática). Seus fins já estão prontos. Refutam indagações das novas gerações mais por terem se enquadrado dentro da "norma política de suas funções de ganha pão" do que por realmente enxergarem malefício em posturas jovens e revoltas que um dia já fizeram parte.

Toda a ideia perene e associável que nos aparece nas academias,  discussões públicas entrelaçadas pela mídia para tais perfis, servem para captação automática, pois seus cérebros funcionam como instrumentos de medição em um equipamento clínico de hospital que nos dá respostas limitadas a sua  própria instrumentalização, e tais ideias advindas desses "projetores da realidade" são como os números e informações que simplesmente nos servem como próteses utilitárias. Como por exemplo opiniões sobre a importância da representatividade política que utilizamos para manutenção e sobrevivência democrática em nossa sociedade. Ser contra a representação, para intelectuais viciados em "próteses ideológicas e politizadas" é sinônimo de ignorância quanto a um axioma, afinal com o fim dos fascismos e comunismos do século passado, louco daquele que criar ideias ou alimentar pensamentos que corram fora do que entendemos como "democracia, igualdade e liberdade" e que não esteja preocupado em chegar a praça com teses que gravitem na manutenção dessas três vias, e com o liberalismo liderando o enredo. 

A "praça" parece estar tomada por sofistas que não ostentam excessiva juventude e entusiasmo, mas que com seus impulsos idosos tentam legitimar a ordenação de utensílios  autores e conceitos sem a mínima preocupação de que talvez no mínimo a falta de "magia" de suas preocupações e rotina dos dias estejam por fim os amordaçando em  uma busca que não é deles... nada deles, pois parece que como para Platão, para esses pensadores a vida encontra-se simplesmente no campo das ideias e não no indivíduo e sua conexão psicológica e cultural, como se nossas relações não fossem formadas por "co princípios" e sim por simples ordem histórica, cronológica e política a qual temos todos de nos identificar e julgar nossos antepassados como condutores que nos fizeram ser quem somos, e que devemos absorver e formar nosso caráter, nossa identidade através dessa ridícula lógica acadêmica utilitária da vida. 

Parece não haver desprendimento e preocupação com a nossa miséria da qual já falara Pascal , como se na fundamentação de seus conceitos primeiro venha a essência e depois a existência de cada individuo, esquecendo assim escatologicamente de agregar Sartre na construção de seus pergaminhos sempre preocupados com as formas, sem junção com a matéria e a substância que compõem a existência.

Na praça, esses pensadores (se assim merecem ser chamados) utilizam as tipologias de gigantes como Nietzsche,  Montaigne,  Kant e outros, quase sempre como adendos para seus limitados textos carentes de impulso e vida, de análise do caos e transcendência. Preocupados com a harmonização da ordem democrática e liberal de nosso tempo junto as indagações de cada geração que vem ao mundo, parecem membros escolásticos que viveram suas vidas tentando doutrinar e peneirar as verdades que deveriam aparecer aos olhos daqueles que se dispunham vasculhar por caminhos de dúvidas e estudos. 


Afinal, somos mesmos capazes de conhecer realmente a verdade preocupados com a manutenção e harmonização das hipocrisias políticas de nossos tempos e sem insights sobre qual é por fim o sentido da vida? 

A filosofia ao longo do último século perdeu força "representativa" por se ver frente a realidade tecnológica que rapidamente foi se desenhando e mudando gradativamente a intensidade das relações de poderes e interesses. Conhecimentos econômicos, arqueológicos, matemáticos, físicos, e principalmente políticos fizeram com que o filosofar se diminuísse  ao mero especular técnico.  Escrava de uma lógica material, ela deixou de ser um discurso daqueles que acreditavam no que seria apenas uma possibilidade, dando assim lugar ao "caçar vulnerável de um plano contingente da realidade" que do alto de suas necessidades de subsistência esmiúça diligentemente como um cachorrinho obediente questões que no fundo não são suas...

E assim, na praça ela cita pensadores clássicos, modernos e contemporâneos os manuseando como números num teorema matemático, como se tivéssemos que através do pensamento ter fundamentalmente compromisso com a verdade. Como se todas as tipologias tivessem sido criadas e não nos restasse nada a não ser abreviar as perguntas, quando não muitas vezes as calar antes mesmo de expressar.

O caos como probabilidade é um risco que se corre quando a busca intelectual do desprendido vai por fora, pelas beiradas, e quando para se inscrever nos muros da cidade está passível de interpretações além do senso comum... Professores acostumados a dar nota precisam e fazem do seu "papel dentro da sociedade" como os policiais nas ruas, varrem o que o círculo das virtudes julga como errado.

A filosofia não pode estar sujeita a notas, varreduras e correções sobre o que vem a ser pensamento certo ou errado partindo de premissas, deduções advindas a priori de meras "etiquetas" que se predizem preocupadas com a realidade... Se lá atrás no neolítico em um determinado momento, onde só haviam comunidades e grupos em condições de sobreviver por si mesmas (sem Estado, sem nação), de repente um grupo de guerreiros decidiu subjugar o outro, criando-se assim o que Nietzsche chamou de reação do mais fraco nos que se submetessem, e que dominados pelo conquistador, sucessivamente buscariam a vingança impotente e ressentida (através de golpes ou até mesmo de mitos e contos que invertessem e transvalorassem a ordem de certo/errado, forte/fraco, bem/mal) para prevalecer a memória de seu povoado reminiscente (gerando dessa maneira nas sociedades subsequentes uma postura degenerada da vida que  perpassou gerações influenciando-nos ao ascetismo na construção de nossas culturas e relações sociopolíticas) . Um filosofo não deve deixar que sua filosofia (sua busca pelo saber) obedeça a certas ordens movidas pelo juízo de valor de que a essência do mais forte esteja por fim ao lado das instituições (sempre preocupadas antes de tudo com a "ordem e o progresso") antes do que ao lado do indivíduo, pois para um pensador que carrega a "dúvida no sangue" suas induções não o deixam obedecer. Ou seja, influências sempre existiram na construção de um pensamento, mas claros tons de ordens pedagógicas são pequenos e miseráveis demais e derrama tudo aquilo que Schopenhauer chamou de "regras de conduta para o bem viver". 

Se diante das "praças" pensadores sem corpos pretendem através da culpa estabelecer uma relação onde eles possam nos trazer a interpretação do que os clássicos tentaram dizer lá  atrás, o melhor caminho é "martelar"... Ler solitariamente os diálogos, aforismos e revelações sem que sua vontade de saber se separe da sua capacidade de se superar... filosofar primeiramente para si, depois decidir os caminhos  de seu filosofar... afinal, o caos como probabilidade tem mais a ver com instintos e impulsos jovens do que para idosos "ressentimentos que mais fazem mal do que bem a nossa integridade física".


F. Sinnentleerten

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...