terça-feira, 30 de julho de 2013

Dicotomias e Caricaturas

Seríamos os Reformados?
Quase que profeticamente reformados “tout court” por uma mão invisível que Adam Smith descrevera no século XVIII? 
Estaríamos sendo educados hoje para que vícios “bolcheviques” do passado não pudessem emergir como toupeiras novamente e colocarem em cheque todas as escolhas políticas que a sociedade fez ao longo de nossa recente história moderna?
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Reformados enfim como se tudo em volta fosse uma mera escolha entre a dicotomia homem lobo do homem (Hobbes) e homem bom, estragado pela vida em sociedade (Rousseu)? Como se nascêssemos maus e a sociedade fosse a responsável por nos tornar bons? Ou como se nascêssemos bons e a sociedade fosse a causadora de nossos males e vícios? Como ser ateu ou crente? Político ou apolítico? Etc, etc, etc... 

O comunismo como o conhecemos, no século XIX e início do século XX encerrou suas atividades (sobrando apenas o seu espectro pairando sobre cabeças confusas que não conseguem discernir e diferenciar política da moral); as ideias do socialismo se não estiverem de forma híbrida unidas a noções liberais e democratas logo não servem para nada a não ser encher linguiça na cabeça de jovens insatisfeitos com a vida em sua escola particular... 

Estaríamos sendo reformados para que não cometêssemos os mesmos pecados do passado? – Como revoluções (por exemplo, a frustrada intentona de 1935 no Brasil), ou intelectualismo pró anarquia (como o pensamento de Pierre-Joseph Proudhon, aniquilado pelo Marxismo “dialogatório” junto as burguesias no século XIX),  ou então a perda de tempo pensando em como acabar com a fome, a corrupção, e novas formas de se administrar a cidade e os interesses públicos (uma esquerda organizada no estilo de Gramsci), etc. – Tudo em troca de viver uma vida marcada por pagamento de impostos, obtenção de saúde e sucesso?

De todas as coisas que nos enlaçam de fora para dentro temos sempre algum flash ideológico marxista, capitalista, democrático, nacionalista, ateísta, e tantas outras vertentes do pensamento moral, social, teológico e científico que formata em nós uma certa psicopatologia coletiva. Seríamos reformados hoje de alguma forma não só pela educação que nos é passada na escola e nas universidades, mas pela própria cultura no ocidente que estaria nos suprimindo a meras continuações, protótipos e arquétipos, caricaturas de idealizações que positivistas e românticos fizeram da gente no passado... Um passado onde imaginaram seres humanos x e y convivendo harmonicamente em sociedades x e y , e que hoje nada talvez tenha tido real resultado, onde nem sequer temos uma resposta definitiva sobre o que vem a significar solidamente o preconceito, restando apenas a nós as migalhas dos projetos passados. Ou seja, interpretações de projetos distantes num momento em que todas as utopias simplesmente morreram (se ramificaram e não prestam mais pra nada) e a simples representação política é o que temos para administração de nossos interesses econômicos e sociais.

Nos reformamos gradativamente, entre o apagar das luzes do iluminismo e a era das grandes generalizações das ciências, após a segunda guerra mundial no ocidente e quase que automaticamente após a queda no muro de Berlim para que conseguíssemos  conviver finalmente como se não existissem incoerências e divergências nos cotidianos das pessoas.

Para que não parecêssemos ogros babões tentando comer de garfo e faca, trouxemos então a psicologia e o pragmatismo num patamar abaixo para a convivência comum e assim moralmente nos relacionarmos bem enquanto prestássemos um caro serviço a hipocrisia, como se o mundo natural fosse acessível a força de qualquer intelecto. Mesmo que tendo uma visão sistêmica contra o mundo de hierarquias ou até mesmo a própria inveja perante os bens dos nossos semelhantes, trouxemos a nossa agenda o caráter fraternal que toda relação política que se preze precisa ter. 


Seriamos reformados por nós mesmos? Seria uma escolha nossa? Uma evolução de nossa espécie?

Fui questionado por um leitor desse meu mísero e pedante Blog sobre o que eu estaria tentando dizer ao utilizar a expressão “caos como probabilidade”. Esse leitor deve ter lido alguns posts aqui e visto que a utilizo de maneira aleatória sem me aprofundar muito no seu real significado.

Pois bem...  Diria a esse leitor que realmente caricaturo bastante as coisas que não gosto ou que considero plenamente equívocas, e que acabo dessa maneira explanando mais meus posicionamentos do que criando um pensamento autônomo daquilo que me rodeia. Mas acredito que do contrário, só sendo um budista ou praticante de alguma religião que acredita no “eu interior” para conseguir se isentar e se desligar da cultura e criar maneiras únicas de enxergar e explicar o mundo.

Endosso ainda dizendo que na pós modernidade, o vício de querer novos conceitos, novas opiniões e projetos para um assunto já surrado é típico  daquilo que poderíamos denominar “mimados mecanicistas”, ou seja, pessoas que não se beneficiam simplesmente com textos que expressam opinião ou dissertam um determinado assunto, mas que precisam que autores e intelectuais expliquem seus “posts” sem que ele mesmo, o próprio leitor crie seu significado para o que é lido. Nada mais reformista que isso! (rsrs)

Mas enfim, o caos como probabilidade (...explicando...) que digo vem da necessidade de se analisar as coisas sem estar preso como um protestante as interpretações de sua igreja, como um ateu as convicções de Dawkins, como de um contador aos estudos matemáticos e financeiros. E acima de tudo olhar as coisas pelo que elas “não são”, como a dicotomia Executivo de Negócios/Mendigo de Rua, separados apenas por um posicionamento dentro do local em que habitam, mas que tem as mesmas necessidades de subsistência.

Dessa forma o caos como probabilidade seria como a “suspensão do juízo” dos céticos gregos, não ter a certeza e alimentar as dúvidas perante aos fatos e questões que aparecerem. Pois, é clara ao longo da história humana a incapacidade que nós homens temos em participar de todos os eventos, de todos os espaços, ou determinados tempos específicos ou lidar com a aleatoriedade dos fatos. 

Como diria Pascal,“...Os segredos da natureza estão escondidos; embora ela esteja sempre em ação, nem sempre descobrimos seus efeitos: o tempo os revela de época em época e, embora sempre igual em si mesma, não é sempre igualmente conhecida. As experiências que nos dão conhecimento a esse respeito, multiplicam-se continuamente; e como elas são os únicos princípios da física, as consequências multiplicam-se proporcionalmente...”.

Aqui, longe de mim ser um intérprete de Pascal, mas é uma reflexão sobre o quanto deixamos através do pensamento de estabelecer contato com outras variantes da natureza, e que todas as escolhas que fizemos na sociedade também passaram por esse problema metafísico. 

Não pensamos em tudo como pudesse sonhar nosso ilustre Descartes (um puta reformador hein rsrs) e toda vez que um prédio cede as estruturas temos a impressão de que a razão tem sim suas falhas, e que os métodos estão sempre expostos não só a erros mas a rachaduras inesperadas, problemas nunca vistos no solo, climas oscilantes em locais divergentes. Nazismo, fascismo, e metodologias de governo que também nos deram claros exemplos de nossos erros ao emprestar nossa esperança nas ciências sociais. 

O caos como o venho concebendo nos últimos posts tem a ver com o trágico, em lidar com a perda e a derrota de maneira não vulgar, perceber a nulidade da razão e suas pretensões “politicamente corretas” (nada que não tenha sido dito de maneira mais genial que o próprio Nietzsche sobre o amor fati). Pois como arquétipos que somos, vociferamos modelos e exemplos e ficamos aquém de nós mesmos quando nos damos frente ao espelho e nossos próprios constrangimentos sem os apoios intelectuais que asseguram nossas convicções. A bíblia não erra quando nos transpõe em metáforas. Adão, Caim entre outros mostram claramente nossas tendências libidinosas, desejosas, invejosas propensas a luxúria, a raiva e a preguiça. Não é uma modernidade com menos de quatrocentos anos que poderia desviar o homem de seu caminho pecaminoso, mas as vezes parece que ele mesmo é quem escolhe esse caminho, quem escolhe se reformar ou ser reformado por releituras e reinterpretações arbitrárias em função de qualquer loucura, qualquer ilusão. Deixando de lado suas individualidades em favor de um “melhor sentar na mesa”, uma “melhor etiqueta”, um “melhor vocabulário”... Um melhor “endireitamento em sua postura política de ganha pão”...


...A grande questão desse post de hoje é a dicotomia Caos/Reforma... o que ficar subtendido já está bom.


F.Sinnentleerten

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