segunda-feira, 24 de junho de 2013

Manifestações... A falta de Marat

As manifestações que mexeram com o país nas últimas semanas é um fenômeno bacana se analisarmos o quanto ele é capaz de provocar reações políticas do Estado sem que se tenha um partido ou um interesse único por trás a não ser a própria insatisfação do indivíduo frente a má administração dos recursos de nossos governos. Uma explosão causada pelo estopim mascarado dos R$0,20 a mais na passagem do ônibus em São Paulo, mas com todo o peso de outras questões velhas e novas que permeiam nossos dias urbanos como: cura gay, pec37, corrupção, inflação, desvios de tudo aquilo que pagamos em impostos para setores que não deveriam ser potencializados economicamente, etc... 


Porém, temos também lados negativos que precisam ser avaliados. 
A mídia jornalística que culturalmente no Brasil serve àqueles que detém o poder (os donos de instituições privadas e politicamente poderosas) querendo ou não tem algo que os manifestantes não tem... "organização", ou seja... a velocidade com que os instrumentos midiáticos mudam de lado para conseguir de maneira camuflada trazer os rebanhos fugidos a seu devido lugar sem que percebam a coerção, é fantástica... 
Os programas midiáticos convidam o telespectador a sentar em seu sofá e assistir aos acontecimentos reais, ao vivo e a cores, a lerem sites de fácil leitura, acompanharem jornais e rádios sócios de empresas donas de mais da metade de todo o Brasil... e tudo como se estivessem ao lado das bandeiras levantadas pela maioria dos manifestantes, mas o que parece que tentam fazer mesmo é anestesiar o movimento inédito que se iniciou nas últimas semanas.

Sou franco em dizer que fui apenas uma vez ver qualé que era do manifesto nas ruas nessa segunda feira que passou (17/06), e de perto senti que algo falta nisso tudo... uma bandeira, uma organização concreta (não de um partido), algo que não faça (o que já parece estar acontecendo) com que as causas que fizeram inflamar a massa nas ruas se diluam e caiam no esquecimento dando lugar ao que já é de praxe... pois querendo ou não, nas multidões nem todos pensam igual, nem todos partilham de um mesmo pressuposto... os R$0,20 centavos me parece ser a peça chave de indignação da galera mas que por falta de uma pauta mais consistente pode acabar morrendo sem ter uma liderança que realmente venha efetuar aquilo que nas ruas as pessoas estão gritando... Há até quem acredite que possa ser algo a se temer como o comunismo de 1935 representando os manifestantes, ou a contrarevolução dos militares em 64 representando o Estado... rsrs.. devo rir, pois nas ruas fica nítido a torre de babel que está se tornando esse movimento, onde todos para se comunicarem só conseguem gritar palavras de ordem simplórias, que expressam o descontentamento, apenas isso. Pois nem organização sobre os lugares dos protestos tem funcionado direito, como foi o caso do bairro do Ipiranga na zona sul de São Paulo que apareceu no mapa das manifestações e meia dúzia de gato pingado apareceu mas logo foi embora por não ter um volume considerável de pessoas...

Mas no todo é fantástico que a "máscara de heróis cívicos" que até 3 semanas atrás sequer sabiam o que era pec e outras causas, hoje insurjam como "vingadores" cheios de vontade de mudança influenciados pelas redes acessadas de seu gadgets... mas no fundo sinto em dizer com meu típico pessimismo que tudo talvez seja apenas um flash causado pelo típico tédio que nos enlaça em nossos dias, banhados a trabalho servil, a consumo febril e entretenimento vaidoso... parece ser mais uma manifestação moralista contra os governantes do que uma frente que se move a favor de discussões e estudos maiores do bem comum... um exemplo foi na avenida paulista onde dois manifestantes do mesmo sexo estavam se beijando e foram logo abatidos por outros manifestantes, que  pelo que me parece eram contra o homossexualismo... ou seja... a "metonímia" surge como uma constante no meio do tumulto todo... contradição, posicionamentos radicais, infantis (para citar Immanuel Kant) e alienados por falta justamente de uma liderança que provoque a real catarse intelectual de todo o movimento... um Jean-Paul Marat para ser mais claro... pois uma revolução na sua real concepção seria com pedrada na casa de quem rouba dinheiro publico, bombas na cara de policial que não estuda e que se acha no direito de bater em nós estudantes e vandalismo para mostrar que toda essa bagaça não é só de brincadeira... 

Mas o protesto pacífico que ao longo da situação a galera foi começando a manifestar, sem uma liderança concreta (o que costuma dar certo com partidos) me parece ter virado apenas um movimento anestesiado pela mídia que no decorrer dos fatos começou a utilizar de seu poder de marketing e propaganda para vender a ideia de que se você sair nas ruas e ficar de boa fará sua parte por mudanças... 

sei lá.... 

É normal que nos sintamos fazendo parte de algo maior no meio de um tipo de situação como essa, onde qualquer sujeito é convocado a ter opinião e a fazer número em prol de questões subjetivas que possam impulsionar mudanças de posturas naqueles que nos governam... mas se utilizarmos um pouco de psicologia talvez veremos que estamos tão gastos com o quanto a vida social e econômica nos absorve que qualquer delírio acaba inflando nossos balões... mas me coloco ainda na posição de dúvida e observação... acho que essa possa ser a minha parte nisso tudo. 

Vi muitos manés pra lá e pra cá falando de mudanças e necessidades sem nem saber o mínimo dos três poderes, ou de divisões entre prefeitura, governo do estado e presidência... Temo que a voz da maioria seja então apenas uma voz burra, pequena e simplesmente vulnerável e que tenhamos jogado fichas em vão enquanto estávamos nas ruas procurando culpados ilusórios ao mesmo tempo que passávamos mais uma fase no "Cand Crush" de nossos iphones... Mas por outro lado... fica então a experiência de cada um por si mesmo, de se saber único no meio de muitos e que interesses da sociedade não podem apenas serem discutidos em gabinetes a portas fechadas...

Bom... vamos ver o que dá isso tudo... Sem Marat...



F. Sinnentleerten

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