quarta-feira, 2 de maio de 2012

Professores Ferramentas



Muito nos é cobrado hoje a respeito de criatividade, resolutividade, raciocínios rápidos e qualidade em cima do que fazemos em nossa vida estudantil e profissional. Nunca antes um sistema sócio econômico conseguiu tão universalmente impulsionar os seres humanos a terem objetivos tão parecidos quanto hoje...
Dinheiro... como fim e não como meio...

Não que isso (dinheiro) seja ruim, longe de mim até porque adoro dinheiro. Digo no sentido de que ele nunca tomou conta da vida da gente como hoje em dia.
Não somos mais religiosos, misantropos, filantrópicos, isso ou aquilo... o que nos move não são mais as crenças existenciais ou intelectuais, mas sim o saldo em nossa conta corrente junto ao banco...

E aí vem uma pergunta: Estudamos pelo conhecimento ou pela profissão? É mais que óbvia essa resposta.

Você gosta do que estuda e do que faz no trabalho? Hmmmm, vamos lá, não seja puxa saco, diga a verdade... eu sei que você preferiria estar vendendo algodão doce na praia nesse horário...rsrs

Mas aí... qual é a finalidade de um curso técnico oferecido pelo Estado?


Pois bem, num curso técnico, é difícil haver um debate não tendencioso entre o que é passado como conteúdo e o que é absorvido pelos alunos,  ou seja, o utilitarismo do conhecimento reina fácil entre os professores e aprendizes. Dificilmente questões levantadas com senso crítico é mastigada pelos professores, que donos do que é ensinado acreditam que os caminhos a serem executados tecnicamente pelos aprendizes existem socialmente só em via única.

Um curso técnico tem como finalidade formar profissionais em áreas específicas que possam atuar dentro do mercado de trabalho tendo enfoques característicos naquilo que é ensinado...
Ele não é como um curso de humanas onde se pode debater ou questionar o próprio conteúdo, é evidente que o que se visa ali dentro é a operacionalização do conhecimento que em sua gana por compatibilização com as necessidades do mercado de trabalho deixa o lado humano estreito a pequenas discussões, ou nem isso... Sem nenhuma real troca de experiências cognitivas sobre as condições econômicas e sociais a qual todos ali estão expostos...

O perfil, as qualidades, as visões; tudo que um empreendedor precisa ter... num curso técnico inventam personalidades fictícias e simbólicas pré moldadas para os estudantes como algo a ser alcançado... O empreendedor, administrador de logística, de administração, marketing ou até numa área mais cientifica... Como se todos nós tivéssemos direitos de ser o próximo capitalista dono de empresa a dar certo.

Nessa corrida do capital onde o dinheiro dita nossas diretrizes, é obvio que a tendência é não nos tornarmos esses tais personagens que os professores pintam, e sim mais algum trabalhador com maior ou menor salário do que outro.

Mas isso não é o que desejo falar, pois o sistema que vivemos é isso e não há nada que se possa fazer para se adquirir mais igualdade ou distribuir melhor as riquezas (pessimismo puro, ainda mais num país onde intelectuais babam o ovo da postura neoliberal americana)... estou querendo chegar é na “visão de qualidade” que muitos profissionais (sejam eles professores ou até mesmo profissionais das áreas) tem de que estamos em nossas vidas capitalizadas como num jogo de perguntas e respostas onde errar é fatal... onde discordar é sinônimo de burrice... Onde refletir sem correntes ideológicas utilitárias faz parecer que estamos num local balizado entre politicamente correto e discernimentos desenquadrados.

Hoje muito se fala de qualidade, melhorias nas empresas... Até pseudofilósofos charlatões que se julgam moralmente superiores por fazerem parte de uma academia pública (só no nome, pois parece particular pelo tanto de alunos burgueses que consegue absorver) estão escrevendo tendo como objetivo estruturar em diagramas os nossos questionamentos e posições... Querem ditar quem é bom, quem é ruim... Enquadrar o que serve, e o que não serve... ISOS 9000,9002 e os blábláblás normativos... Padronizações de processos. Professores disseminam toda a idéia padronizadora de conhecimentos no intuito de que a melhoria contínua tem a ver com evolução pessoal para quem está do “lado de cá da operação”.
Todo um vômito de conceitos surgido da necessidade das empresas perdurarem o quanto puderem em suas altas escalas sem que percam seus lucros através da “perda de clientes por insatisfação” chega aos ouvidos e nas mentes dos funcionários e alunos, que aderem o “sonho capitalista” como um caminho a ser desbravado moldado por slogans e mershadising, onde até os nossos comportamentos se terceirizam viciados nas propagandas que seus próprios patriarcas armaram para os aprisionar nessa bolha.

Disseminadores da idéia de que: “já que o comunismo morreu, então vamos jogar o jogo burguês e ensinar a galerinha do técnico como ser uma boa peça da engrenagem”... uma perspectiva tendenciosa para o lado do mais “forte” que não oferece reflexão e nem um debate mais consistente ao aluno de que fazemos parte de um ciclo de poderes que se renova a cada década...
Dá a entender que o professor frustrado por não ter sido um Lênin ou um Stalin, logo fica obcecado em deixar os novos alunos substancializarem idéias (cleans) sem tantas neuroses e rancores (clássicos) dessa sujeira educacional se embrenhando em raciocínios relativistas de todo esse jogo de relações.

O que rola explicitamente é que o governo com a abertura dos mercados mundiais se enfraqueceu muito nos últimos vinte anos, perdendo todo seu poderio para bancos e o livre comércio... Se o Estado não dançar a mesma música dessa globalização perderá cada vez mais o seu espaço se reduzindo à um administrador burocrático sem forças para andar com as próprias pernas. E assim faz o que for possível para jogar na mente de seus bens mais preciosos (os cidadãos comuns) o lixo ideológico no qual o mundo se apegou – que nada mais é a idéia de que o capital deve ditar todas as suas regras não apenas profissionais e morais mas também intelectuais. Como se a inteligência e o conhecimento fossem filhos da ideologia burguesa – e os professores estão sendo a maior ferramenta para que essa idéia se ramifique dentro do mundo estudantil.

O conhecimento não é isso...  e não é um professor ferramenta que vai ensinar o que é o conhecimento dividindo lados e pintado bandeiras...


Não é questão de levantarmos aqui argumentos (ultrapassados) contra uma sociedade capitalista medíocre como a nossa, mas sim de tentarmos levantar a questão de que os cursos técnicos não precisam o tempo todo tentar impor questões intelectuais sem oferecer senso crítico àqueles que estão recebendo as informações (alunos), ou tentar camuflar o tempo todo a eficiência daquilo que ele oferece como técnica profissional.
O professor que fica o tempo todo expressando o quanto devemos ser e estar bem dentro do mercado de trabalho não faz o que deveria ser o seu papel realmente pedagógico – o papel de oferecer fontes para o pensamento e não tendências a serem seguidas...

Fui criticar o blog de um Zé Mané alienado num mundo de academia que falava sobre nossa falta de cultura perante a cultura e a política americana dizendo que ele estava sendo tendencioso, e logo me respondeu que só anjos não têm sexo e que todo texto é tendencioso... que a posição dele era muito bem discernida e que marxóides burros como eu deveria estudar mais e entender o bem que a ciência do capital faz a mim e aos meus compadres de pátria (os brasileiros)...

Pois bem, falar hoje de qualidade é como explanar o horário político como solução para nossos problemas existenciais.
Existe muita mentira naquilo que chamamos de melhoria contínua dos processos dentro das organizações. O que muito acontece é reduzir o senso critico do aluno àquilo que ele tem de fazer apenas como um parafuso. É lógico que os marqueteiros das padronizações tentam a todo custo inventar argumentos que possam seduzir aos alunos e colaboradores das organizações a aderirem cada vez mais a essa onda das melhorias.


Mas e o lado humano dessa história? (é lógico que inteligentes formados na PUC, que dão aula na USP, na UFRJ tentar afirmar que há uma confusão entre o que blogueiros como eu entendem como “humano”... mas é simples apontar o dedo estando do lado de lá da conjuntura)

Quantas vezes na sua empresa você ficou decorando junto aos auditores internos as respostas a serem dadas aos auditores da ISO 9000/9002?


A ISO não é algo tão interessante quanto parece para o colaborador comum, auxiliar de estoque, de compras, de vendas, etc. O real interesse é do dono, da gerência que adquirem um selo que ajuda na perduração de seu império... Um ou dois anos de paz que oferecerá carta branca para circular entre o sistema de transição de mercadorias e serviços sem ser barrado por falta de qualidade em seus serviços... mais dinheiro para bancar esses tais “inteligentes” para falarem bem do sistemeco ao qual nós estudantes estamos expostos...

Quantas vezes a ISO veio lhe perguntar sobre seus conhecimentos realmente tácitos? Quantas vezes vieram lhe perguntar se os seus erros de não conformidade foram falhas suas ou de seus gestores ou até erros de raciocínio do próprio dono da empresa (um ignorante que só fala em sustentabilidade quando é benéfico ao seu bolso)?
Isso tudo pouco importa, pois o que interessa é o dinheiro que circula em toda essa política. Os ISOS são comprados, os selos de padronizações são todos comprados independente se sua empresa consegue melhorar realmente todos os anos ou não...

Entender toda a política de implantação da qualidade nas empresas é uma coisa, mas aderir ela como concepção profissional é outra totalmente diferente (soa como fracasso). O que o técnico que está se formando precisa entender é que o conhecimento não é aquilo que lhe é proposto pelo professor em sala de aula, mas sim o que você reflete e questiona sobre o que a sociedade como um todo lhe explora simbolicamente em cima de suas crenças, te fazendo achar bonito essa guerra profissional e de mercado com conceitinhos remoldados de Adam Smith.
Não é questão de o professor estar certo ou errado, mas sim de que a mente de um estudante está sendo feita de pinico não por culpa apenas dos professores medíocres que executam seu mísero trabalho, mas principalmente de um sistema muito maior que em sua essência lhe quer como um ignorante inseguro esperançoso das promessas consumistas desse mundo globalizado cheio de sonhos mentirosos que podem ser comprados se você vender a sua consciência a ele.


Trabalhar num ramo relacionado a logística é lidar com mercadorias, mas não nos deixemos ser apenas mercadorias na logística política econômica que nos empobrece existencialmente sem colocar uma barreira que mostre um limite dentro de nós mesmos entre o que pode ser vendido oito horas por dia e o que somos em nossa real concepção antropológica.

A qualidade está ligada ao quanto do que você faz é bom para você e para a sociedade e não pelo quanto você é sugado pela a empresa de seu patrão.


Olhe no fundo dos olhos de seu patrão, do seu professorzinho ferramenta e tente enxergar o quão orgulhoso ele está de você por ter um certificado de merda igual o ISO 9000/9002.

Ele sequer sabe que você existe quando está assistindo a uma peça de teatro que retrata a importância dos colaboradores na intensificação de seus impérios cunhados pelo neoliberalismo...

A postura hoje não é mais do trabalhador que vai atrás do sindicado reivindicar seus direitos, do aluno que corre atrás da UNE para pedir auxílio... a postura hoje é olhar para todo o otimismo hipócrita e inflar-se de si mesmo... sem que totens lhe sirvam de anestesia perante a argumentos conformistas de idiotinhas que acham que entender a constituição é o melhor sinal de sanidade mental...


Olhar o mundo em sua forma e conteúdo cultural e de interesses políticos, tão importante para um julgamento intelectual nos dias de hoje, perde espaço para a origem e a intenção por trás dela... o que muitos idiotinhas carimbam de essencialismo.



Fernando Ribeiro (Sinnentleerten)

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