sábado, 25 de fevereiro de 2012

Livre associação de idéias ou sugestão coletiva?

O que se passa pela minha cabeça, aquilo que eu acredito ser meu pensamento é realmente meu ou sugestão coletiva?


Não, não é só meu pensamento. 
Há mais de sugestão coletiva do que meu pensamento por si só... pois o pensamento se faz por ligações, símbolos, sensos de direção, imagem... mundo como representação já com nomes dados, idéias ditadas... (pelo menos assim imagino, ou penso que imagino, sei lá).

Eu por mim mesmo, para pensar por mim mesmo, talvez precisasse desintegrar toda a cadeia constitucional das coisas que formulam minha identidade... como educação de pai e mãe, as visões de meus parentes, o que a escola me ensinou, o que a sociedade pop do capital enfiou na minha mente com slogans e influências “culturais” ... questionar tudo que li...tudo que assisti... que ouvi...  tudo que refleti.. e ainda assim não será meu pensamento... pois desintegrar não é meu... tornou-se meu como tomar banho todos os dias, não nasci para tomar banho, me condicionei a isso para tirar a sujeira do dia e me sujar de novo no dia seguinte...
A sugestão coletiva se enraizou... um senso comum sobre passado, presente e futuro fisga-nos .. tirá-lo não aparece a principio como tarefa ou algo possível... e justamente por isso acaba sendo uma utopia acessível de se fazer idéia.... e fazendo idéia daquilo que nos formula temos uma possibilidade de “livre associação”, mas acho que não o tempo todo.

"Somos o que pensamos sobre a gente, o que pensamos sobre o mundo e o que o mundo pensa da gente"... essa máxima de Schopenhauer, essa sistemática que nos enlaça nos transforma em escravos narcisistas desde aquele momento que mamamos na tetinha da mãe... o ser humano social parece mais egoísta no entendimento do que na ignorância... e faz parte de nós.

Agora... sair dessa sistemática e entrar numa dimensão incondicional do pensamento aparece como horizonte intelectual que seduz, e quando chegamos perto demais nos causa medo... (pelo menos assim imagino, pois é o que sinto frente a transcendência dos símbolos morais e éticos que me proponho a questionar, raciocinar e relativizar) um medo por entender que não há o que ser entendido no fim das contas, pois o entendível é a mentira e a mentira faz parte da realidade... a história que nos cerca é ambivalente e o presente é uma ilusão... ou vice versa... 

Sendo assim, olhar no espelho e ver-se uma mente que sonha em cima de um corpo que morre... sem consentimento frente ao utilitarismo da experiência em si, vagando pelo espaço ideológico e entendendo que no mundo não há um mecanismo capaz de nos comprazer frente a “orfandade”, com inserção do pessimismo como forma de visualizar a carnificina do nosso ser em prol de esperanças baratas (estado, cultura, crenças, história “verídica” etc etc etc)... é o que trava a sedução da livre associação  de idéias... ou pelo menos acho que trava, pois toda a idéia do ser humano como “bicho liberdade” soa a meus ouvidos como fuga ... pois o homem entendendo a livre associação de idéias como forma de se entender e entender o espaço como algo a ser lapidado o enternece num conto de fadas comunista de igualdade, onde o errado é político, a sociedade e todo o núcleo que  o circunda... sou o outro? Devo algo ao outro? à história? à filosofia? Devo algo a alguém?
Não sou o outro e devo mostrar que não somos iguais?...
Mas o incorreto faz parte já da própria condição da gente pensante... ou seja, ser livre para pensar não existe. Sempre há no seu passado um ponto onde alguém e algo já fincou coisas e lembranças em sua história, a partir daí é impossível se desvincular... eis o mundo das idéias de Platão.

Talvez o pessimismo não nos deixe ser o outro tão livremente... pois o outro é mais medroso ou mais corajoso... e isso influencia muito na divisão integral das idéias... na ação utilitária de cada executor...
Ser o outro é consequência de uma esperança herdada... não ser o outro intelectualmente é fruto da desnutrição dessa herança frente a ver-se diferente em seu labirinto livre cognoscível, acho que até um passo além de ser sempre o esperançoso neurótico...

Crime e castigo... um homem fruto de uma sociedade eticamente (historia, geografia, ciência) desenhada que se fragmentava industrialmente e tecnologicamente ao redor o afundando em seu forçado vazio em pleno século 19 russo... seu vazio advindo de uma ipseidade que lapidava-se em neurose em busca de uma razão, "a sua razão simbólica"... mergulhado num nada torturante que só ele queria ter as chaves... pois o nada numa terra do tudo consegue desvincular-se do tudo e ser livre caso os labirintos o deixe fazer isso, mas a liberdade sem estar integrada a sugestão coletiva te leva ao asfixiamento, pois é uma linguagem torpe em meio a noções perpendiculares... e voltar acaba sendo o castigo do ser em si mesmo... sair da caverna e querer voltar por se dar conta da hostilidade da natureza lá fora (e a natureza já não é externa, é interna), é você se dando frente a seus próprios demônios internos... demônios surgidos da consciência livre de ver-se como nada, sem sentido, que suas bases vem da sugestão coletiva e não ter a possibilidade de desligar-se disso... suas ferramentas não são suas essencialmente (computadores, TVs e rádios... livros.. pensamentos etc etc etc), sua vida não é vivida... e reais momentos, lapsos de “vida” o torturam por se ver forçado a usar essas pequeninas experiências em prol da ética vigente, uma cultura de muitos, de todos... 

Livre associação de idéias vem da sugestão coletiva... Deriva dela, positivamente ou negativamente... vem dela... 
Ou não também... dessa forma, daqui dez anos posso pensar diferente.


Fernando da Silva Ribeiro (Sinnentleerten)

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