Dentre as mudanças psicológicas
no ocidente mais significativas no que data nosso advento da modernidade, é o
fato de não mais nos projetarmos como os antigos (que viviam em comunidades,
tribos, sociedades regidas por credos, visões míticas) de forma uníssona e
repulsiva aos outros povos como se fossem os Bárbaros, os Filisteus, de
Culturas Inferiores. Pois como “massa”, esses tais antigos tinham enraizados em
suas sociedades preceitos e valores culturais integrados que auxiliava no
suporte daquilo que entendiam como sendo a “segurança”, a “paz” e a ”harmonia”.
Em sociedades agrárias locais e regionais desintegradas do restante do Globo
Terrestre, vivendo sob a esfera de credos, cosmologias práticas a respeito do
mundo, sob tabus morais, instabilidades e ausência de leis concretas, estavam
sempre enfrentando momentos turbulentos e de guerras constantes.
O inimigo e culpado pelas
"mazelas" que ocorriam eram simbolizados por representatividades da
Natureza, achando por vezes serem guiados por chamamentos de outros Povos, por
Entidades ditas “Demoníacas” que poderiam a qualquer instante pôr fim as
estruturas afetivas e concretas de seus convívios.
Hoje, não nos livramos desse tal
instinto de rebanho, e quase sempre estamos sujeitos ao misticismo, ao
relativismo conveniente e preguiçoso, e aos preconceitos de massa que ainda
habitam comumente as nações orquestradas em suas culturas principalmente por
conservadorismos intensivos e morais, e principalmente religiosidades
presunçosas. Porém, é nítido que quando somos capazes de nos desprender por
alguns instantes dessa materialidade contemporânea, através do suporte
intelectual e certa “práxis teleológica”, com ênfase profunda em pensadores da
moral humana, não mais olhamos aos outros povos e comunidades vizinhas como
sendo o oposto daquilo que consideramos como “Equívoco” ou como “Culpados”
pelas nossas “Misérias”. Pois, de certa maneira, crescidos e absorvidos pelas
ranhuras de nossa história e pergaminhos de nossa ciência, temos a oportunidade
de discernir que de repente aquele que simplesmente encontra-se ao nosso lado
(falando a nossas língua, sob a mesma bandeira nacional) avizinhando nossos
passos pode não convir, de repente aquele ser vil que habita nossas rotinas
mais simplórias [sagradas ou profanas] podem não nutrir valor por reflexões
profundas referente a realidade humana. E após passarmos pelo fenômeno
Iluminista que sucedeu a Renascença, fomos através da história moderna e
Humanista aprendendo que o “mal” não mais se encontra tão longe assim como
pensávamos antigamente, mas é sim suscetível a possibilidade de dar suas caras
de quando em vez ao nosso lado; e que se nos olharmos no espelho com mais
afinco poderemos constatar muitas vezes tal mal habitando o nosso próprio
interior, ludibriando nossas próprias convicções, visões de mundo.
Me parece que nosso primitivo
instinto de segurança atualmente nos dá vazão, através de um profundo
conhecimento interno, de expulsar (as vezes até de maneira racional) pessoas e
situações crônicas de nossas vidas como antes nunca havíamos experimentado. O
fato de hoje conseguirmos nos desapegar de lugares, situações e pessoas que nos
incomodam com tanta facilidade, talvez seja uma das mais importantes dentre as
muitas alterações psicológicas e sociais que sofremos ao longo do tempo e da
história.
Enfim, fazendo aqui um juízo de
valor, considero essa alteração de postura perante a sociedade a mais
importante, pois parece abrir caminho a tantas outras percepções e ações que
podem porventura nos levar a questionamentos inabitáveis ao senso comum... Mas
que nos ajuda a separar o que é preconceito e o que não é nas coisas triviais
de nossas relações humanas.
Fernando Ribeiro
Fernando Ribeiro
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