sábado, 2 de junho de 2012

Fuligens no céu

É bom ler...
Cansativo, relativo... mas faz bem.

De alguma forma quando lemos não precisamos mais ficar a mercê dos julgamentos daqueles que por fraqueza ou preguiça se veem como donos de uma razão intrínseca e moral sem o espaço para questionamentos.

Eu não sou  daqueles que saem por aí tolamente tentando mostrar ao mundo a importância que um pensador teve ou tem à humanidade. Socialmente me coloco mais numa posição de observador perante as coisas inúteis e atitudes vazias que rolam por aí.
É lógico que tais coisas e atitudes passariam em vão se eu não fosse um leitor de Bauman, Schopenhauer ou Sade, e mais alguns que auxilia-nos a ter ferramentas quando as coisas ficam realmente difíceis de levar...

Mas assim, é bom ver, perceber o que na sociedade ocidental contemporânea é alienação, o que é patologia, o que vem da mentira e o que deriva da verdade (verdade aqui vista de uma perspectiva não muito pretensiosa se levarmos em conta que ela varia do seu grau de pragmatismo).


As vezes nutro inveja daqueles que sentem a vida  mais suavemente, que simplesmente entendem as situações sem tanta carga explosiva, que são capazes de postar no face dizeres budistas, chineses ou frases cleans para arejar os porões de suas vidas.

Mas saiba, mantenho a desconfiança.

A mantenho, pois por mais arejado que esteja um porão com dizeres de auto ajuda com certeza estão mofadas as paredes e ali os ratos fazem a festa....

Mantenho a dúvida por trás de meus olhos rebeldes e infantis.

Contemplando Brecht, Gramsci e Husley percebo que minhas próprias razões podem ser colocadas em cheque, que nada é pra sempre quando temos a certeza de que tudo tem um fim, que tudo acaba... Equações matemáticas e físicas foram o ápice que conseguimos chegar carimbando a nós mesmos como detentores da razão. E mesmo com certezas matemáticas um matemático, um engenheiro, físico (ou qualquer um que lida com números e contas)  não consegue se considerar existencialmente dentro de uma linha objetiva da verdade como se considerou Descartes, Leibniz e outros modernos pré revolução tecnológica.

Ou seja, o ceticismo perante a todos os pontos daquilo que nos cerca ajuda-nos a perceber a amplitude de incoerência dos símbolos que nada podem centralizar em si os cunhos diretivos e cosmológicos numa teoria diante outras tantas que emergem na superfície de nossos tempos.

Assim, a rebeldia de um brother de vinte e cinco pode começar a fazer sentido numa esfera tal discernida nas bases pessimistas onde se pode desconfiar de tudo, do professor, dos donos de corporações, dos próprios pais de família, dos bons meninos, das boas meninas e de tudo que já vem mastigado dentro do ambiente social.

Uma nota de prova, TCC ou até uma avaliação profissional executada pelos setores de RH podem ser vistas com um olhar mais subjetivo...
Diante de todos os caminhos geográficos, políticos, históricos e constitucionais que a massa nem sequer pausa para refletir dentro da democracia, pode ter certeza que esse brother não precisa mais levar porra nenhuma a sério (a sério no sentido de entregar reverência a valores externos e dogmáticos quando seguidos pela maioria)...

É um grito na era da imagem quando tentamos dialogar de alguma maneira formas de estabelecer contatos menos objetivos, menos doutrinários em busca de relações mais solicitas diante de nossas carências.

A vida é escura... Ninguém quer o teu bem... Numa noite somos meros objetos e querem nossos corpos para usufruto de prazer, querem beber de nossa intelectualidade para que possam dizer de seus pontos de vistas alienados que é perda de tempo ler Tolstoi... 

Mas óh! o interessante é que esse mesmo cara que nos aponta o dedo é o cara que vai ao banheiro na balada e não vê a namoradinha entregando o número de celular escrito com batom no guardanapo a espera de um contato longe daquele babaca, hahá... Será que ela quer ouvir um pouco de Marx ou está a procura de "objetos" mais sólidos e menos "fofinhos"? rsrs

É... Ler realmente deve ser uma perda de tempo para esses caras que simplesmente absorvem artigos e pontos específicos de obras literárias para tirarem as notinhas da facu, falaê! Porque ler algo realmente substancial só se for Paulo Coelho ou nem isso.

A vida é escura... Quando estivermos no leito de morte veremos o quão nada fomos seguindo os caminhos mais fáceis de se conseguir as coisas (não contemplando nossos vícios e focando apenas em virtudes idiotas).

Quantas vezes deixamos de estar com quem realmente queríamos simplesmente para calar aquela vontade aventuresca de viver algo fora do comum (algo virtuoso e volúvel)?
Aventuras tais, com formas tais cheias de valores ditados sociais que de alguma maneira preenchem nossos egos individualistas.

A falta de senso crítico e de ceticismo investigador nos faz ver a vida como um playground colorido, sem tragédia e sem nenhum sabor maniqueísta... Nesse cenário a beleza, a ingenuidade, o dinheiro, e a pseudo sanidade mental são as metas daqueles que seguem "insanamente" atrás da felicidade, atrás dos prazeres que a cultura do consumo oferece num bar manjado ou numa balada cheia de luzes e Psy, fugindo das depressões, dos ratos e das angústias.

Tenho que admitir... Ler clássicos não lhe trás prazeres com facilidade e muito menos felicidade objetiva frente as banalidades mais simples que nos rodeiam... Com certeza lhe trará na maioria da vezes um certo grau de depressão diante as visões nostálgicas, frias e até um alto teor de angústia no contato com questionamentos afetivos do seu próprio ser frente traços antes quase imperceptíveis.

Não é questão de dizer que todo mundo que lê  é inteligente e sabe separar o certo do errado... Mas assim, lendo a sua sensibilidade começa a ficar menos bobinha e mais profunda em dores e desejos, e o reflexo dessa parada pode ser das mais contraditórias.

Lendo você pode ser um mero viciado, lendo você pode ser ético, anti ético, pode ser o caralho a quatro, mas pode ter certeza que as consequências dos atos para quem busca conhecimento numa fonte mais cética e filosófica é um pouquinho mais dolorosa.
As cicatrizes não saram, o senso de culpa adentra insistentemente a memória e as mentiras incomodam o ouvido (mesmo as que você conta a si mesmo).

E quando você chorar pode ter certeza que ninguém estará por perto, nem Deus, nem amigos, colegas, muito menos familiares... Só o poder de se olhar no espelho tendo a certeza de que num futuro próximo as coisas irão melhorar... De uma forma ou de outra irão melhorar...



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