segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Estilingue

2012, o senso da massa toma conta do espaço...

Diferenças? Já não se sabe...
O que nos diferencia? O que nos torna iguais? O sexo, a cor, a inteligência... a extensão simbólica dos entendimentos?

Nina é um filme brasileiro de 2004,
dirigido por Heitor Dhalia, baseado
na obra de Fiodor Dostoievski
“Ela se olha no espelho... seu rosto não é bem aquele que desejava ter, seus olhos transmitem dor, um certo vazio escuro angustiado... anseios chegam todos os dias inflando suas vontades que quase nunca são realizadas... rancores, revoltas, culpas... sua postura deixa explícito a desistência instintiva de quem não consegue o que quer culpando os que chegaram onde o seu imaginário apontou como ideal ...”

Assim, o espaço vem tomando conta de sua narração com as placas lhe indicando a direção... a opinião aceita aquilo que é imposto, que é dito vivendo para os outros... lendo, estudando e dançando com os outros... indo para casa pensando naquilo que lhe incomodou no trabalho, indo ao trabalho pensando no que lhe incomoda em casa... aceitando o que o professor do seu filho ensina, o que a televisão explana... sendo e estando o externo... acreditando nisso tudo que não representa quase nada... fisgando a compreensão da evolução espiritual na ascensão profissional na empresa em que trabalha, em que exerce uma função operacional...
Crê... ora... visualiza como querem que visualize...


E de repente, quando a crença não se sustentar naquele fúnebre momento que pesa nas costas ao pegar um ônibus lotado, ao ver um acidente de moto com fratura exposta, ao perceber que as instituições que formulam suas bases na verdade são ilusões corriqueiras que viciam seu pensamento... solte! Fuja! Faça o que de melhor sabe fazer... bote a culpa nos outros... afinal, o inferno são os outros... você não precisa de ninguém... nunca precisou de ninguém...

Mais um angustiado em meio a multidão com olhos lacrimejantes... sensibilizado pela própria sensibilidade aguçada, inventando demônios e manias, anjos e sonhos... chorando e sentindo a própria mediocridade sendo a diferença dentro de um caldeirão que modela as discrepâncias...

“Ela quis sair nesse fim de semana, mas achou melhor ficar em casa num dia de frio, sem amigos, nem livros, nem parentes nem nada... absorvendo tudo aquilo que a incomodava... de alguma forma não pensava em nada”... nada...

O niilismo lhe aparece e ela o nega como quem come sardinha imaginando um pedaço de cação ao molho de tomate. Afinal, sua humildade é sua virtude... uma humildade rala que encontra sentido ao desprezar aquilo que vem de quem lhe paga o salário...

... os dias se repetem, corpos morrem e a vida existe colorida para muitos... e quem quer ser feliz? Tecnologia, hits no rádio... ser feliz talvez seja muito fácil... 

“ela sente atração por garotas, tem repulsa por meninos... meninos tais que no passado tiravam sarro de seu corpo, seu cabelo...”

Quem a ensinou sobre a vida? A escola, os pais ou a igreja?
E sobre a morte, quem vai falar...?

Os dias se repetem... há uma ilusão no ar, existe louças pra lavar, roupas pra comprar...
Talvez nossos netos olhem para trás e pensem... “eles queriam dar direitos aos gays, lésbicas e simpatizantes, ratos e bois militando sobre assuntos vomitados por aquilo que nem mensuravam” – Monstros que rasgam o ar, geram câncer nos seus pulmões, petrolizam utopias e fiscalizam seus dilemas...

O pai que virou mãe e a mãe que virou pai... as utopias morreram, os gênios se esconderam e nossos direitos se resumem em mesquinharias que almejam a liberdade... liberdade preguiçosa... que ao dormir esquece-se de si...
Uma  liberdade de que? A liberdade de sair na rua saltitante e feliz? De se transformar em mercadoria livre para ser consumida como farinha que se cheira e se esquece no instante seguinte?
Pássaros enjaulados fazendo graça para o dono que não liga para sua verdadeira condição... trocando de pena, assoviando para enganar a si mesmo sobre a atual conjuntura..
Ser feliz num espaço hostil onde a constituição lhe diz e lhe empurra... colore as bancas e as livrarias, consome seu suor e lhe oferece troféus...

O erro é de todos... sua virtude é sua fraqueza se escondendo atrás daquilo que não está nem aí pra você...

Ser bom no que faz. Sem ancoras para lhe impedir no momento, e no agora... sem extensão real... sem identificação e identidade... pelado, sorrindo com uma cara cheia de dentes esperando a morte chegar.. esperando que deus lhe chame para passar a mão em sua cabeça e dizer que foi um bom menino, uma boa menina, sem pecados... que lutou pelo fraco e oprimido, que não cometeu aberrações repugnantes...
Então vai... seja bom.. se perca em greves, explique o que de melhor você faz, fale do seu trabalho, da sua vida pessoal... e esqueça tudo... esqueça sua própria canção para assimilar mais.. adulterar mais do que te adultera...

Nome Próprio  filme  brasileiro 
de 2007, dirigido por  Murilo Salles,
baseado no livro Máquina de Pinball
“E ela quer mais... e as vezes não quer nada...
O alto teor da mentira lhe consome como a heroína na veia de um viciado...”

Os vícios nos consomem... o vicio do bem nos consome...
O vicio do prazer nos consome... uma luta sem emblemas tendo o outro como amigo e como irmão... e no fim das contas você sendo seu maior inimigo... tudo que possa camuflar o vazio de sua orfandade, seus medos... seu vazio frente a um universo que se move e não liga para seus choros e revelias... Demandas que te sugam como pernilongos sedentos por sangue...

Utopias rancorosas apegadas em fumaças e apagadas em mensagens que somem e as mãos já não conseguem tatear... Tremores e temores que lhe impedem de guardar e lapidar a consciência dentro de si, dentro de nós... Dando vós a homeopatia que exige espaço e almeja o laço sem a noção exata do caos sem o poder...
O poder em si que ela não tem, sem vísceras... Só tumor.. só a dor num sorriso falso tentando ludibriar o espetáculo e mostrar aquilo que não é... Um frio na barriga com medo do que vão achar no rancor frente aos reprovadores que existem em todo lugar...

No final a liberdade é sempre infantil... Sempre foi... e sempre vai ser infantil...
Ela sabe disso... Mas ainda não teve de enfrentar o vazio do deserto a lhe tomar a consciência no gosto amargo em ter de vender seu resquício fétido moral e sua crença minúscula em prol de um prato de comida... Dentro de seus pequenos vícios ela sente e reluz verdades imaginariamente superiores. Afinal, ela é humilde, aberta, isenta de preconceitos...

Ainda existem os que acreditam em sua história mal contada, mal escrita, mal vivida... cheia de tédio...
Acreditam e admiram a capacidade do ser humano sentir-se bem mesmo estando mal...
Macacos com navalha prontos para operações...

“Ela é melhor do que a garota morena de salto alto que atrai os olhos dos homens inseguros que precisam de um rabo de saia para se afirmar, ela é melhor do que aquela que se formou em duas universidades e ganha vinte vezes mais do que seu piso agregado em dissídios sindicais, ela é melhor do que sua mãe que não consegue e nunca conseguiu ouvir seus gemidos frente aos pesadelos, é melhor do que sua irmã que só pensa em dinheiro e maquiagens, é melhor do que seus colegas fracos que não sabem quem ela realmente é... Ela se compara, se idealiza, sonha com todos que ela odeia um dia lhe aplaudindo e lhe adorando...”

Quando descobrir que somos todos seres banais e frágeis tendo como único recurso a consciência e o dom de se calar para não falar e fazer besteiras que apontem o ridículo que é a falta de maturidade frente a dilemas que ela nem experimentou... Talvez olhe os prédios e comece a pensar no que realmente seja nosso centro gravitacional... A morte lenta, ociosa e viril...

Afinal, ninguém ama sem a morte, ninguém cria sem a morte... a crença na vida branda e serena é um tiro na própria consciência que estilinga seus traumas e faz desmaiar os seus sentidos...

A vida com sentidos adormecidos é o contrario da mente que morre acordando as sensações...

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