quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Orgulho vs Coitadismo

O que resta ao homem se não o seu orgulho de ser e viver aquilo que é? 

O que o homem faria se não carregasse dentro de si a altivez por ser capaz de não se entregar fragilmente as situações e desagrados que insistem desde o início de sua vida a desatinar sua existência?

Existe um distanciamento muito grande entre os ditames morais de uma sociedade e a prática daquilo que se espera do ser humano frente a tais ditames. Ou seja, a princípio ouvimos e aprendemos que a humildade é o sentimento mais nobre dentro da esfera cotidiana terrestre, e que ela serve para uma manutenção cosmológica e ética da convivência entre os iguais. Porém uma coisa que fica clara, com a experiência humana de frustrações e erros ao longo das relações afetivas, é que só se pode ser literalmente humilde aquele que carrega motivos contundentes de não o ser.

Só podemos presenciar um ato de humildade quando existem fatos e uma esfera consistente e propícia para que a soberba, a vaidade e orgulho possam delinear as posturas envolvidas a caminhos contrários da simplicidade e singeleza tão cobradas pelos códigos de conduta aos quais (in)conscientemente obedecemos.

Uma humildade meramente gratuita, tão facilmente poetizada por teólogos e pensadores das mais variadas vertentes, parece não representar a real e concreta dignidade de um ato. Pois dignidade é uma palavra que ganha corpo e maior significado quando colocada ao lado de situações de lutas, de situações de riscos, ao lado de situações onde existam ações e efeitos conflitantes em que o homem é rendido a provas e testes, onde seu caráter possa ser forçado a questionar-se por dentro da alma a respeito das reais relevâncias de suas escolhas.

Se abster, fingir que nossa alma não carrega tendências a um conjunto de impulsos não condizentes com a moral e as ordens éticas vigentes, é um ato e uma reflexão típica que faz nascer de maneira infantil das "más consciências" uma noção superficial sobre o que vem a ser bom ou ruim. Tal noção essa que acredita piamente que a elevação do espírito humano só pode se concretizar quando não residem em seus pensamentos energias e instintos; que sabemos (não é segredo pra ninguém), compõem antropologicamente nossa constituição fisiológica e mental.

Ao homem que não se deixa elevar de quando em a vez pelo pleno orgulho de suas escolhas, de sua formação cultural e social, pelo senso de honra no fronte de suas perspectivas e que simplesmente pensa de forma equivocada no que tange as responsabilidades e ações dos seres humanos na sociedade, não lhe resta muito além na sua composição metafísica uma flexão balizada entre ingenuidade cândida, mentiras e um pífio instinto de alvura. Ou seja, fica-se entregue como alvo as impertinências da natureza, as maledicências e principalmente pelo seu próprio vitimismo. Vitimismo tal que se harmoniza muito bem com moralismos torpes e senso de achar que o mundo gira sempre só em torno de si.

....Só acredito na humildade daquele que tem bons motivos para não o ser.


Fernando Ribeiro

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