sábado, 14 de setembro de 2013

Moléstias Mentais

A loucura como Erasmo de Rotterdam descrevera estaria em tudo... Como uma deusa estaria nas entranhas das coisas, nos símbolos, na linguística, nas relações, dentro e fora das pessoas estabelecendo a energia vital para que negássemos o caos como probabilidade em prol de regrinhas morais "civilizadas e humanizadas"... 

Quem o leu sabe que brincava, que aludia para desdenhar aqueles que se escondiam atrás da hipocrisia e da mediocridade, e que se aproveitavam dos desenhos hierárquicos sociais para comandar as mentes com mentiras, absolutismos, celibatos e formas idiotas de estados de honra... 

A obra de Erasmo influenciou muita gente durante o século XVI e até hoje é lido assim como Calvino na França e Lutero na Alemanha (porém, esses últimos voltados a uma nova postura e doutrina perante aos ensinamentos de Deus, o protestantismo).


Na obra de Erasmo por muitas vezes você se vê  diante de si mesmo, da humanidade e de tudo que nos rodeia absorvendo quase que automaticamente uma certa carga de culpa. Percebe que o homem foi capaz de atrocidades não só físicas, mas principalmente de autoflagelos psicológicos e morais para consigo em favor de coisas que simplesmente foram se somando para estruturar ao que se tornaram a época em que a obra foi escrita... Vendidos das virtudes.

Mas, na vida as virtudes não existem e nunca existiram, mesmo que em tom de brincadeira Erasmo mostra que é necessário a loucura pra que haja a depreciação daquilo que carregamos em nós (os vícios) em favor daquilo que a sociedade julga normal.. Antes de Thomas Robbes, o Elogio da Loucura compunha a sinfonia do que viria ser a construção do "Estado de Natureza" de uma maneira benevolente em depreciação a sociedade de sua época. Afinal, não foi sempre assim com o pensamento crítico? Uma insatisfação com o presente que gera um raciocínio a um belo horizonte que estará por vir.

Erasmo explicitava objetivamente sobre a capacidade da igreja católica de sua época estar tão entregue aos valores da carne, ao materialismo, aos benefícios hierárquicos e a narcisismos papais, seguindo caminhos contrários ao que as próprias escrituras tabulavam. Ele deflagrava o senso comum com a melhor arma da filosofia, o estranhamento.
Enquanto todos achavam que a loucura era restrita a uma doença e ao que se poderia chamar de "moléstia mental", para ele serviu como um termo linguístico mais profundo e humano do que isso. A loucura era tão presente que estava até na aceitação da rotina, das imposições, da submissão... Ele era um Humanista!

O que se nota que há em comum entre os protestantes e o próprio Erasmo é que por verem que os pais escolásticos eram em suas pregações e atitudes rudez e ignorantes perante a real natureza humana e essência do sacrifício de Jesus Cristo, por influência do renascimento (obras gregas) em seu tempo se rebelavam quase que por um complexo de Édipo contra o Clero (orgulhoso como um pai tirano) responsável pelos caminhos e decisões da Europa.

...Como sempre o homem foi propenso a se estabelecer com o poder e a se acostumar a ele. Tendo Deus como ferramenta, o Cristianismo se estruturou e comandou a Europa tributando e ratificando cada vez mais em nome de poder e usura do que por aquilo que a principio viria ser a sua prerrogativa (a misericórdia). 
Mas quando falamos em cristianismo, não falamos apenas da instituição por si só, mas o que Lutero, Calvino e Erasmo apontavam era principalmente para indivíduos que se aproveitavam politicamente para angariar e barganhar. Nisso acabaram pintando um quadro que manchava toda a história que na época já denotava fracasso por parte dos Sacerdotes e sua supremacia.
Com o protestantismo nascia uma visão burguesa, que lia a bíblia em suas línguas e perspectivavam novos horizontes, novos sonhos, novas utopias, livres de indulgências despropositadas.
É óbvio que o protestantismo como qualquer nova forma de ver o mundo que chega ao poder logo tentou carimbar sua característica e se fazer permanente, livre de ultrajes e inseguranças. Nisso, se tornaram antissemitas, fizeram rebeliões e estiveram presentes em muitos barulhos na época de seu nascimento e estruturação.

O que se faz perceber na obra de Erasmo, é que mesmo resistindo a se bandear de vez ao lado dos protestantes por ser claramente um gênio livre de amarras, notou que o clero nunca foi para qualquer um, que o ser humano nunca está isento dos pecados e que estes parecem ser a única verdade que podemos tocar, que a loucura esteja em tudo e que aquilo que os donos do pensamento (independente de sua época) dizem ser o errado talvez seja enfim a essência de tudo. Ele era um Humanista!!!


Do protestantismo reformador até as reformas as quais nos colocamos a mercê moral e intelectual, através de ideias seculares podemos ver que diante do Elogio da Loucura  (obra clássica atemporal) a sociedade por contrato, a ciência, a polícia, a democracia, o socialismo se tornaram hoje "UMA cansada forma de humanismo" já fracassado e que teimamos todos os dias as 6 da manhã olhando no espelho a escovar os dentes nos convencer de que é a coisa certa a ser feita, executada... Precisamos que a loucura nos habite como nossos pecados para que tenhamos ainda  fagulha de esperança para com o futuro da humanidade, suas "reformas" e suas consequências.

Do alto de meu felisteísmo acho que o que nos diferencia dos animais é o fato de termos deixado de comer do chão sujo com as mãos para usar talheres, e que isso não nos torna e nunca nos tornou melhores ou evoluídos, apenas mais acomodados, mais mimados... mais retardados. Loucos somos por não ver a loucura em nós mesmos, por acreditar em qualquer ideologia, em qualquer esquerda, direita, qualquer notícia, caminho...  a percebendo apenas como uma moléstia mental...


Erasmo estava certo, a loucura está em tudo...



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