segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Baratas


Enquanto tento pensar sobre a lei vigente, existe alguém que a escreve. Enquanto tento obter senso de justiça, existe alguém que a exerce...

Há quem utilize de pendulo em tudo o que tange entre a ética e a moral...

A verdade, acima de tudo perpassa a própria verdade, a verdade dita, a verdade vista, a verdade aceita. Pois é ela mesma um conflito entre posições que se ramificam de suas próprias perspectivas.
O ser humano necessita sentir-se sobre o controle de situações externas ao seu real domínio, nisso se cria símbolos, formulas, magias, na intenção de se postular... obter controle...

Strauss em “pensamento selvagem” analisa o quanto existe de igualdade entre as diversas formas de estruturar a “realidade” em diversos povos e tribos. O contato com os mitos, as lendas de tribos indígenas  e a busca por conhecimento cientifico...



Para Strauss o pensamento selvagem encontra-se presente em cada ser humano que habitou, que habita e que habitará o planeta... Após o neolítico viemos não em constante evolução, mas buscando novas maneiras de se colocar perante o mundo, seja através de crenças, sabedoria... modificando-se conforme necessidades e experiências adquiridas.

É o próprio raciocínio cientifico propenso a julgar que sua fórmula sobrepõe formas de pensamentos enraizados por culturas e costumes, pois acredita estar suportado por experiências mais substanciais. Da mesma forma os pensamentos enraizados em culturas e costumes tribais e regionais se sobrecoloca acima da postura cientifica acreditando também que suas experiências e vivências são superior a outras formas de se colocar perante a natureza (mesmo que ligadas a sentimentos de lendas, contos e conhecimentos contadas por antepassados)...

Mas ao estarmos localizados hoje em pleno século 21 , tendemos a analisar fora desse contexto; não iremos parar pra refletir que buscamos entender tudo de celulares, carros, computadores e formas técnicas de ganhar a vida numa sociedade capitalista globalizada, porém se nos perguntarem se sabemos algo sobre plantas que curam, sementes venenosas, sobre carnes que auxiliam em casos patológicos, perceberemos enfim que alguns conhecimentos não nos estão a disposição de imediato, que teremos de procurar por eles, seja na internet ou diretamente com especialistas em botânica e biologia, e que aqueles que julgamos como primitivos podem dentro de sua estrutura de convívio social entender de plantas, animais e sementes e ao mesmo tempo não ter nenhum conhecimento de computadores, pois não sendo convidados a pensar sobre o assunto é mais do que óbvio a inaptidão que se criará no primeiro momento do contato intelectual com ferramentas de origem distinta daquilo que necessitam para se sentirem sobre controle da realidade externa a qual foram preparados para analisar e sobreviver.

Ou seja, a verdade, se analisarmos de longe sem a pretensão de utilizá-la objetivamente,  veremos que é mais ambígua do que vem a parecer no primeiro momento. Ela em sua formulação sistêmica é formada por mentiras, dúvidas, incerteza, falta de respostas e determinismos. Métodos podem ser criados, utilizados, lapidados visando sempre um resultado formal a estrutura racional que obtivermos, mas a verdade em si parece mais longe do que simplesmente experimentar e concluir como quer a metafísica e a ciência.

A ciência tem seu valor na sociedade. Toda a busca dos mulçumanos durante a idade média pelos elixires da vida eterna e suas outras tantas alquimias, todas as buscas da renascença e principalmente do iluminismo em estudos da física, biologia e mecânica... todos os caminhos traçados através de experiências que nos deram respostas e fórmulas matemáticas exerceram papel fundamental nos caminhos da sociedade ao que nos transformamos hoje...


O fenômeno de desencantamento do mundo que Weber descreveu no inicio do século 20 (onde o pensamento cientifico após todas as formulações e descobertas seria capaz de perspectivar a realidade exterior através de uma estrutura arraigada entre a dúvida e a pesquisa) tendo sempre a certeza de uma resposta a encontrar na sociedade científica, burocratizaria a informação e a circulação de ideias sejam elas quais fossem na sobreposição concreta de uma verdade até certo ponto inverdadeira por cima das relações socioeconômicas.  Num processo cíclico onde duvidamos e concluímos...  e por fim tomando uma posição estando embasados no que concerne a sabedoria cientifica, propensos  a mitificar acreditando possuir a chave da designorância tendo a certeza de que a resposta sempre existe, bastando achá-la na junção de fatos, leituras e posições.

E tendo a confusão de utopia como verdade falamos hoje de bem de todos, do pensar por todos, de estar posicionado de uma forma pragmática perante a questões que há uns 3 ou 4 séculos estão quase muito respondidas... Muitos teóricos das ciências humanas se apegam a ciência para dar cunho a suas percepções e conclusões no intuito de integrarem seu sacrifício intelectual ao propósito de participação no Welfare State... mas falando de inclusões sociais, de manutenção política vemos quando muito o bom senso sendo articulado e votado conforme convier as estruturas que possuem exercício físico a engrenagem econômica.


Da mesma forma que a verdade não está também na fórmula marxista de tentar através de um determinismo genealógico pensar a história, a geografia e a vida através da lógica “mandante e mandado”, também não pode estar a verdade num posicionamento pessimista da realidade como ela é e muito menos como deve vir a ser...

A verdade transcende a todos os posicionamentos sejam eles religiosos, econômicos, políticos, de esquerda, de direita, de neutralidade e científico .. Ela não serve a ninguém  como queira pensar um Jesus do século 21 que lê OSHO, ouve Raul, lê Rubem Fonseca e assiste Discovery Channel. A ciência em muito exerce papel cego como de uma metralhadora, que hora está nas mãos do policial, hora nas mãos do bandido. É dúbia, ambivalente como Poseidon.

A questão aqui está no conflito de questionar se a verdade carrega o fardo do que nos é contado e o que realmente pode ter acontecido na história, o peso da religião e sua influência humanista em qualquer homem e mulher que vem ao mundo quando nasce, da ciência e seus laços com interesses econômicos de bancos e empresas, do ateísmo e sua rebeldia militante.
Nunca um físico genial dirá algo objetivo e contundente sobre Deus, e nunca um crente da igreja protestante dirá algo coerente sobre Darwinismo. E todo conflito contemporâneo encontra-se sob a esfera das leis, da justiça, da moral e da ética.... terreno laico que dá base para convivermos até certo ponto com serenidade perante as diferenças, mas nunca em contato com algum canal que nos leve a uma verdade propriamente dita, bruta seja da pedra, da água ou do ar.

Porém, até que ponto uma estrutura que chamamos de “laica” pode carregar a coroa de estipular e fazer a manutenção do que vem a ser a verdade ou não? Estudos e pesquisas de alguns autores como Rawls indicam que  são as fazes do pensamento humano, que lapidado perpassa pelo raciocínio individualista e suas experiências mais egoístas, avançando a fase plural e executora das respostas de suas experiências primárias até chegar a fase coletivista que utiliza de forma assertiva as conclusões de suas experiências em prol dos interesses da maioria. Ou seja, fazendo a verdade estar submissa a um plano de contingencias.

Mas até que ponto tudo isso se entrelaça com a verdade que estamos falando aqui? Se é que me entendem.

Se estando em tribos indígenas com conhecimentos específicos e utilitários ao que interessa ao povo que ali habita me afasto daquilo que sociedades contemporâneas assimilam como senso comum, nada me tira da cabeça que tenho a mesma trajetória do cientista que descobre a cura do câncer sem saber responder qual o “preço” do remédio que criou.  Pois quem ditará o preço desse remédio descoberto será a indústria farmacêutica.
O cientista barganhará em sua patente por ter criado algo que em sua “pequena cabeça” será em prol da humanidade. Mas e o valor, e o peso da verdade?
A verdade que não só está ligada a descoberta da cura, mas que se integra aos fatos sociais da necessidade de se pesquisar e descobrir a cura do câncer, o quanto custará o remédio, se quem precisar utilizá-lo terá acesso imediato ou terá de esperar a próxima encarnação para ter o dinheiro para pagar pela cura, pelo “curandeiro”...

Esse é o defeito intrínseco da ciência, servir cegamente a tecnocracia que encapa o mundo. E ainda assim querendo se sobrepor a outras formas, sejam elas culturais, primitivas, regionais, de se colocar perante a natureza e o universo.


A ética e a moral nos engana muitas vezes.. camufla e abafa questões, pois ao final chegamos a era dos especialistas onde se pode entender de muitas coisas sem precisar se comprometer com causas e efeitos sociais, históricos e geográficos de nada... Onde todos temos liberdade democrática, direitos e deveres, mas nunca acesso a verdade, logo que não há a incerteza de nada... 

Habitando um mundo concreto de cálculos e estatísticas, sentimentos e conflitos nos olhamos frente ao espelho enxergando tudo, sabendo teoricamente de tudo, mas sendo determinantemente um nada...
Um nada no sentido Sartriano, vagando entre gigantes mortos em castelos no céu...  percebendo cada individuo como um nada e seus atos, pensamentos e imaginações construídas em bases utópicas estruturadas em areia; e que otimistas diante de toda essa complexidade parecem mais a barata de a Metamorfose de Kafka.





Penso diante toda a merda que disse acima que uma filosofia primeiramente em busca das mentiras (pois sendo as mentiras: pecados, vícios, hipocrisia) desvendando antes a face errada da humanidade  do que as verdades impostas e desencantadas podemos então estruturar um raciocínio mais cético e abrangente em busca de um resultado amplo, menos altruísta, menos penso a ideia laica e utilitária.... verdadeiro no que se integra apenas em busca do saber que a verdade antes de tudo não existe, nós que a concebemos, a maldizemos e a bendizemos enfim como quisermos.


Fernando Sinnentleerten

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