domingo, 18 de dezembro de 2011

O amor


Podemos falar do amor de duas formas. Eu, como um dualista que gosta de colocar tudo sob duas ou até mais perspectivas, prefiro então jogar tudo no ventilador e ver o que sai. Afinal, gosto de consequências rsrs.

O amor como o concebemos, culturalmente tende a ser cristão no Brasil. Aquela ideia de que com o amor construímos vínculos através de esforços rotineiros de um para com o outro, entende? Relações entre irmãos, pais, e todos que conhecemos... Aquele bla bla bla social de sempre!!! Então, essa é uma forma para se construir um raciocínio.

Mas quero ir direto ao ponto. Não quero falar de uma forma social. Quero falar do amor como algo ruim até certo ponto. Como algo que nos atormenta e nos faz prisioneiro de um espectro pairando sobre nossas mentes, nos fazendo lembrar coisas que nos atordoam.

Explicar psicologicamente o que é o amor faria com que eu perdesse a poesia sobre as coisas que gosto de pensar... E nunca fui muito bom em explicar o que é esse sentimento, afeto, postura, ah! Sei lá!

Às vezes largar mão de ciências humanas e buscar na poesia uma substância mais complacente a nossos problemas  pode nos enlouquecer, mas afirmo: é mais prazeroso seguindo um raciocínio Nietzschiano!


O amor não é algo tão pífio para ser tema de abordagem publicitária, como se de repente amando e sendo amado pudéssemos nos tornar pessoas alegres, como se uma ideia utilitária sobre qualidade de vida pudesse nos trazer uma fórmula de amar e consequentemente ser feliz.

Não!

O amor é uma doença que adentra nossos lençóis nos fazendo neuroticamente obcecar por outra pessoa, um vício desgovernado que almeja explicitamente adentrar os mistérios do objeto amado. Sua intimidade, seu corpo, seus gestos mais sozinhos...

A pessoa que ama sob essa ótica entra num estágio de insanidade, de irracionalidade, que seus desejos e anseios se tornam cada vez mais desmedidos. 

Estar perto, conversar, dançar, pegar nas mãos, beijar... Na verdade, se para um casal que já se acomodou com a relação cristã amorosa, são só atitudes corriqueiras e comuns, mas para quem ama desmedidamente esses gestos e atos se transformam na mente um anúncio garantido de que Cronos (o Deus do tempo) virá e levará seu objeto mais almejado embora, mostrando-lhe assim a face obscura do desamparo perante a vida. E isso é que faz com que esse amor só aumente a dor de que quem está submerso a um mar de sentimentos de impotência, onde nada do que se possa fazer em companhia da amada seja pleno... Pois a vida em si aniquila seu poder sobre qualquer coisa de ordem natural, como o tempo que passa mais rápido quando se está ao lado de quem deseja.

Quem ama não consegue trabalhar direito, suas demandas operacionais dentro do sistema do capital tendem a ser mais corrosivas, mais tediosas, pois o fogo ardente da distância adentra sua alma não o deixando pensar em outra coisa que não o objeto ali a sua frente, pronto a ouvir, falar, olhar, sentir, deitar... Ilusões... Claramente ilusões...
Seus hábitos começam a mudar, pensamentos diferentes invadem suas horas de descanso. O envenenamento é fatal. Oscilações.

A felicidade, que é a ideia mais  idiota da contemporaneidade que se camufla em palestrinhas motivacionais, servidas como solução para lhe tornar um ser humano melhor, e um profissional menos reclamão, nada tem a ver com isso...

O amor toma de assalto seus dilemas, potencializa seus medos, abre cicatrizes e te expõe ao ridículo.
Conforme Pondé, o amor não sobrevive ao cotidiano. O cotidiano respira banalidade e aspira à segurança, e a paixão se move em sobressaltos e abismos. Uma pessoa afetada pela paixão não pensa bem.


O amor não é algo que te faz um cidadão consciente a sensações altruístas de igualdade entre os seres.  O amor é uma maldição que encontra na ética e na cultura um freio a seus impulsos.
A vontade de quem ama é mandar tudo para o espaço, e revelar num só grito tudo o que sente despertando-se de toda a insegurança que o acompanha desde seus traumas mais infantis. Mas a trava de nossos valores construídos aparece nos avisando de que essa tal atitude não pode acontecer, logo que isso o tornará um pecador, propenso aos mais insanos pecados.
O sentimento é agônico... Doloroso... Querer e não poder, desejar e não sanar...

O amor lhe apetece daquilo que você não pode ser e ter. No fundo você quer ser o outro, ter o outro... Estar perto, ouvir seu ronronar e sua respiração. O batimento do coração.

Muitos irão explicar como manter uma relação que já acabou com amor (falso)... Lhe darão fórmulas quase que matemáticas para que se possa tirar proveito desse sentimento até não mais restar nenhum néctar, sobrando apenas pétalas secas de uma flor jaz existente. Lhe falarão de segurança, certezas, estrutura, dinheiro, valores, futuro... Todo um emaranhado de celas para prender-te dentro daquilo que busca apenas acomodação numa vida não sentida.

Mas quem ama sabe que amando se sofre por estar longe, e até por estar perto. Misturas de idealizações e razões trituram toda a história mal contada de que seu amado é apenas um ser humano comum... Mas não... Não é anjo... não é comum... é em meio aos turbilhoes de pensamentos insanos um objeto que contribui para a formação de um novo ser.

É um demônio que lhe cobra energias... Que lhe suga o imaginário... Repassa-lhe um vírus incurável...

É uma doença e seus efeitos.






Fernando da Silva Ribeiro (Sinnentleerten)
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